segunda-feira, 5 de julho de 2010

QUILOMBOS: RESISTÊNCIA ONTEM E HOJE.

Quilombo urbano: Cidade Tiradentes

Por Cinthia Gomes*
Parlamento negro Cidade Tiradentes, no extremo da zona leste de São Paulo, é o distrito mais negro do município: cerca de 60% dos 280 mil habitantes são afrodescendentes. “Cidade Tiradentes é um quilombo. Meu trabalho aqui teve muita ajuda de lideranças, moradores que estão na luta para transformar o distrito”, afirma o subprefeito Arthur Xavier. Exercendo o cargo desde 2005, ele é o único subprefeito negro da cidade de São Paulo. Formado em Ciências Contábeis, aposentou- se como gerente de administração financeira da Companhia Energética de São Paulo e então começou a trabalhar mais intensamente na vida política. Filiado ao PSDB, pela identificação com o parlamentarismo, coordenou a campanha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no interior de São Paulo, foi assessor do secretário-chefe da Casa Civil, atuou na Fundação CASA (antiga Febem), além de ter acompanhando a privatização do setor energético. Anteriormente, Arthur Xavier militou em diversos movimentos populares e associações de bairro.
Além da majoritária população negra, outra característica marcante de Cidade Tiradentes é fato de ser um bairro-dormitório: lá está a maior concentração de conjuntos habitacionais da América Latina, são 40 mil unidades habitacionais, construídas na década de 1980 pela (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) - Cohab -, pela (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) - CDHU - e por grandes empreiteiras. O distrito foi concebido para abrigar a população desalojada de outras regiões em decorrência de obras públicas. Mas, sem o devido planejamento, o resultado foi a criação de um bairro retirado (Cidade Tiradentes, distante 35 km do centro de São Paulo; são duas horas de viagem), sem infra-estrutura básica de serviços, saúde pública e transporte.
DESENVOLVIMENTO

Aos poucos, a situação do distrito e de seus moradores está começando a mudar. O Expresso Tiradentes, um corredor de ônibus que ligará a região ao centro, reduzindo o tempo de viagem para 70 minutos, deve ser concluído no final deste ano. Além disso, foram feitos investimentos públicos e privados nas áreas de saúde, educação e serviços. Mas talvez o grande diferencial da administração do subprefeito Arthur Xavier seja o foco em ações voltadas para a valorização da cultura e da auto-estima da população negra. Ele criou os concursos “Bonequinha do Café” e “Vovó do Café”, que premia mulheres afro-descendentes (pretas e pardas) de 16 a 23 anos e a partir de 60 anos, respectivamente; inaugurou a Praça Carolina Maria de Jesus e criou o Festival de Música Popular Canta Cidade Tiradentes e o Festival de Música Gospel Cidade Tiradentes. “As letras cantadas no Festival de Música me ajudaram muito. No primeiro ano, falavam que não tinha biblioteca, então criei um ponto de leitura; reclamavam que não tinha banco, trouxemos o banco para o distrito, entre outras coisas”, conta o subprefeito que também afirma que tem conseguido realizar todo esse trabalho graças ao apoio do prefeito Gilberto Kassab.
A mais recente conquista de Arthur Xavier para a comunidade é a decretação do Parque Municipal da Consciência Negra, no fim de 2007. O parque está numa área verde de 90 mil metros quadrados, cujo terreno, com acentuadas elevações, lembra o da Serra da Barriga, onde existiu o quilombo de Palmares. Há previsão da construção de um centro cultural, réplicas das habitações palmarinas e de trilhas na mata para caminhadas. “O Parque é uma homenagem ao grande herói Zumbi dos Palmares e à população local, que enfrenta no dia-a-dia uma luta grande. Todo esse trabalho de visibilidade da população negra e de melhorias em geral mudou a cara de Cidade Tirardentes. Conseguimos, também, reduzir a violência”, afirma Xavier.
"O Parque Municipal da Consciência Negra
é a mais recente conquista de Arthur Xavier
para a comunidade. Uma homenagem ao grande
herói Zumbi dos Palmares e à população de Cidade Tiradentes”
E o subprefeito não pára por aí: agora em fevereiro ele vai à França para firmar parceria para a construção de um centro cultural, com biblioteca, teatro, cinema, na área mais vulnerável do distrito, que compreende as regiões do Barro Branco, Vila Yolanda e Jardim Vitória. Em comum com um quilombo, além da população negra e guerreira, Cidade Tiradentes, cada vez mais, prima por viver com dignidade.


INDICADO PARA O 1° ANO DO IDB

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