sexta-feira, 18 de setembro de 2015

COTAS RACIAIS: VOCÊ PRECISA SABER.

Por causa da desigualdade entre as raças, o Brasil adotou a lei das cotas, onde os candidatos são selecionados de acordo com as suas caraterísticas. Muitos indivíduos discordam deste sistema, pois acreditam que o mesmo seja discriminatório, aumentado ainda mais o conflito entre as raças. Outros concordam, pois seria uma forma de avançar para resolver as questões raciais. Além disso, os participantes do sistema são em sua maioria de famílias de baixa renda, sendo defendido a lei das cotas sociais.
O que são cotas raciais?
As cotas raciais são um sistema proposto através do modelo de ação afirmativa existente em alguns países para diminuir as desigualdades raciais de acordo com a etnia de determinados grupos.
História das Cotas
Em 1960, nos Estados Unidos, esse projeto foi implantado para amenizar a desigualdade entre brancos e negros. As políticas afirmativas, nos EUA, auxiliaram os negros a encontrarem melhores empregos e terem maior educação, bem como ter posições importantes na sociedade. Neste país, apenas uma minoria conseguiu estes benefícios, a outra parte continua vivendo em condições precárias.
No Brasil, apenas a partir de 2000, órgãos públicos e universidades implantaram o sistema. Uma das primeiras universidade no Brasil, foi a Universidade de Brasília (UnB), no ano de 2004.
A partir daí, as ações afirmativas começaram a se espalhar, chegando a nível federal. O sistema de cotas passou a ser válido não somente para negros, mas indígenas e portadores de deficiência.
Estatuto da Igualdade Racial
Em 2010, o Estatuto da Igualdade Racial entrou e vigor e a partir dele foram preparados uma série de políticas públicas em prol dos afro-brasileiros, como a inclusão dessas comunidades em programas do governo e outras áreas da sociedade. Além disso, o estatuto é responsável por dar a autonomia para a Justiça combater crimes de racismo virtual e também a discriminação racial, através de ouvidorias. Prevê também a obrigatoriedade do governo de realizar festas religiosas e manifestações culturais voltadas para os africanos.
Mas o que não contém no Estatuto são as cotas para negros em universidades, sendo facultativo, que as universidades adotem o sistema; além disso também não há a isenção fiscal para a empresa que contratasse 20% dos negros e a reserva de 20% de negros na televisão e em comerciais.
Outro benefício para a população afro-brasileira, para alunos de escola pública e também para alunos vindos de outros países, principalmente africanos, foi a criação da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab), autarquia ligada ao Ministério da Educação, sediado no Ceará, em Redenção. Seu objetivo é contribuir com uma educação de alta qualidade e desenvolvimento do Brasil e dos países de língua portuguesa, buscando superar as desigualdades sociais. Essa instituição foi criada com base na lei nº 12.289/2010.
Como aderir as Cotas?
Para aderir ao benefício, o indivíduo precisa assinar um termo se autodeclarando de acordo com sua raça no momento da inscrição, alguns também poderão passar por uma entrevista.
Cotas nas Universidades
De acordo com a Lei nº 12.711/2012, o ingresso dos alunos em instituições e universidades federais irá depender da quantidade de vagas oferecidas pelo curso, sendo que deverá ser reservado no mínimo 50% para alunos de escola pública. Destas vagas metade será separada para estudantes que tenha uma renda mensal familiar de até um salário mínimo e meio. As vagas ainda atenderão critérios como cor ou raça, de acordo com dados do último censo do IBGE.
Existem universidades no Brasil que reservam vagas tanto para negros, quanto para índios, como por exemplo a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul e a Universidade Federal do Maranhão. Apesar disso, existe um percentual baixo de indígenas que terminam o ensino médio e posteriormente entram na universidade.
Cotas Raciais em Concursos Públicos
Existem projetos de lei que reservam vagas para índios e negros para concurso público. Mas essas medidas também entram em controvérsias por algumas pessoas que afirmam ser esta, uma nova forma de discriminação e também fere os princípios da Constituição Federal. Para os favoráveis à medida, se existem cotas para universidades, o certo seria também para concursos. Além disso, seria uma forma de índios ingressarem na carreira pública para ajudar sua aldeia.
Em 2013, a presidenta Dilma Rousseff divulgou o envio de um projeto de lei para cotas no serviço público para afrodescendentes, reservando cerca de 20% das vagas para os negros, tanto para concursos federais, e posteriormente para os estaduais e municípios.
http://negros-no-brasil.info/cotas-raciais.html

terça-feira, 1 de setembro de 2015

SLIDES DE SOCIOLOGIA 2 ºANO - 3º BIMESTRE

SLIDES SOCIOLOGIA 2º ANO - 3ºBI

OPINIÃO

CULTURA É VIDA.


Quando questionado em uma aula de sociologia sobre o significado da disciplina pude em meu discurso perceber que a escola é um espaço de construção de cultura, um espaço onde, de forma minimizada, vivenciamos a sociedade, os seus desafios e as possíveis soluções de convivência social que tem se tornado algo de urgência educacional. Episódios de intolerância e de total falta de respeito ao indivíduo, o ser humano em sociedade tem evidenciado os nossos noticiários. Recentemente um adolescente abandonou a escola por receber ameaças pelas redes sociais. Concordo plenamente com o conceito de sociedade de Dalmo Dallari onde ele evidencia que o respeito nas relações sociais são necessidades humanas. Visualizo hoje que viver com as diversidades culturais é o nosso grande desafio e faz parte também das nossas necessidades humanas. Viver em uma turma durante um ano é um grande uma possibilidade de experiência social inigualável. Cultura também pode ser entendida com a nossa disposição de vivenciar essa experiência única: sala de aula. Infelizmente somos limitados pelo tempo e espaço das escolas ainda convencionais, falta quase tudo em termo de estrutura, contudo imbuido da vontade de universalizar a educação seguimos em frente. Cultura é vida ! Parece clichê chegar a esta conclusão mas cultura não é algo que seja imóvel, sem movimento. Está em constante processo de formação e transformação.   

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ATIVIDADE DE DISCUSSÃO (2 ) DE SOCIOLOGIA – 3º B IMESTRE – 3º ANO

Questão única:

O fim da repressão e da censura no Brasil foi importante para o advento da redemocratização no Brasil? Pensem, discutem e elaborem um texto justificando a opinião do grupo. (mínimo de 10 linhas) 

AULA 3 DE SOCIOLOGIA DO 3º ANO. 3º BIMESTRE. ENSINO MÉDIO

Formas de exercício do poder

Caro aluno, nesta última aula vamos lhe apresentar as principais formas de exercício do poder pelo Estado.

Vamos começar pela Monarquia, que é a forma de exercício do poder onde o  mandatário é chamado de rei ou monarca e o poder é transmitido ao longo de uma linha sucessória baseada em princípios de hereditariedade e vitaliciedade. Existem dois tipos de monarquia: a monarquia absolutista e a monarquia constitucional ou parlamentarista. Na monarquia absolutista o soberano exerce o poder de forma absoluta, ou seja, ele é quem dá ar ordens acumulando as funções de chefe de Estado e chefe de governo. Na monarquia constitucional ou parlamentarista o soberano não governa diretamente, cabendo a ele a função de chefe de Estado, cujos poderes são apenas protocolares e suas funções de moderador político são determinados pela Constituição, onde tem como função resolver impasses políticos, proteger a Constituição e os súditos de projetos de leis que contradizem as leis vigentes ou não fazia parte dos planos de governos defendidos em campanhas eleitorais. A chefia de governo é exercida por um primeiro ministro escolhido entre os membros do partido que tem maioria de deputados eleitos na Câmara de Deputados.

Vamos falar agora da República. A palavra república vem do latim Res-publica e quer dizer "coisa pública". É uma forma de governo onde um representante, chamado de presidente, é escolhido através do voto para ser o chefe de Estado, podendo ou não ser também chefe de governo.

Você deve estar se perguntando como o presidente pode ser uma coisa e não ser outra? A resposta tem a ver com a forma da república: presidencialista ou parlamentarista. Na república presidencialista, como o Brasil, o presidente, escolhido pelo voto para um mandato com duração determinada em lei, acumula as funções de Chefe de Estado e chefe de governo. Nesse sistema, para realizar seu plano de governo, o presidente deve negociar com o Legislativo caso não possua maioria. Na republica parlamentarista o presidente apenas responde à chefia de Estado, estando a chefia de governo atribuída a um representante escolhido de forma indireta pelo Legislativo, normalmente chamado "premier", "primeiro-ministro" ou ainda "chanceler".

As formas de poder no Brasil e a privatização do público

Com a independência em 1822 o Brasil adota a monarquia constitucional como forma de poder. Acontecem eleições para o senado e a câmara, mas o imperador Pedro I faz uso do poder moderador para governar de forma quase absoluta.
A república é proclamada em 1889 e com ela o Brasil se torna uma república liberal presidencialista, trazendo muitas transformações, contudo mantendo características que tornam a estrutura do Estado brasileiro como expressão da articulação do novo com o velho. O estado no Brasil se apresenta como o ente que resolve todos os problemas, criando o senso comum de que todos os problemas da sociedade e sua solução as de sua responsabilidade e nada resolvemos sem a sua presença.

Com isso aconteceu no Brasil uma privatização do público. O que é isso? Bem que chega ao poder toma conta do que é público, ou seja, pertence a todos nós, como se fosse sua propriedade. Como consequência, o Estado deixa de ser a instituição que deveria atender a maioria da população e passa a adotar como princípio o favorecimento dos setores privados que têm o poder econômico na sociedade.


Outra forma de privatização do Estado no Brasil é o clientelismo, onde acontece troca de favores políticos por benefícios econômicos. Um exemplo dessa atuação do Estado pode ser visto na ajuda que é prestada a setores da sociedade, como a indústria e o agronegócio, onde capitalistas em dificuldade recorrem ao Estado em busca de apoio e suporte financeiro quando enfrentam qualquer dificuldade, o que vai de encontro a uma premissa o liberalismo que preconiza que o Estado não deve intervir na economia e que o mercado se auto regula, ou ainda na concessão de serviços públicos como canais de televisão e rádio sem a devida transparência a grupos economicamente poderosos ou que mantêm relações com o poder. Um efeito perverso dessa atuação do Estado acontece quando esses mesmos setores que recebem benesses do poder público protestam quando o são feitos investimentos em políticas públicas de saúde, educação, habitação e transporte, argumentando que o Estado não deve comprometer seu orçamento com políticas sociais, notadamente as voltadas para a parcela mais pobre e desassistida da população.

LETRA DE MÚSICA DA AULA 2 DE SOCIOLOGIA DO 2º ANO. ENSINO MÉDIO

A Carne - Elza Soares


A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história
Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado

Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra





AULA 2 DE SOCIOLOGIA DO 3º ANO. 3º BIMESTRE. ENSINO MÉDIO

SOCIEDADE CIVIL E DEMOCRACIA

Caro aluno, nessa aula vamos falar de dois conceitos que estão sempre em evidência: sociedade civil e democracia. Existe uma relação forte e importante entre a atuação da sociedade civil e a construção da democracia e é sobre isso que vamos estudar.
Primeiro vamos definir cada um desses conceitos.

Numa definição geral podemos dizer que Sociedade Civil é o conjunto de organizações e instituições privadas e voluntárias que constituem as bases de uma sociedade em funcionamento, em oposição à estrutura do Estado.
A origem da palavra democracia define seu significado, demo significa povo e cracia significa governo, portanto democracia é o governo do povo, isto é, democracia é a forma de governo onde o povo tem soberania.

Mas qual a ligação entre sociedade civil e a construção da democracia? Tomando o Brasil como exemplo, na luta pela reconstrução da democracia após o período de ditadura militar estabelecida no país de 1964 e 1985 podemos perceber que a mobilização da sociedade civil foi decisiva para que essa reconstrução democrática se realizasse. A sociedade civil representava, no período de 1970-80, a resistência fundamental ao projeto de poder da ditadura militar.

Os movimentos sociais que surgiram naquela época, no âmbito da sociedade civil, poderiam contribuir para transformar a lógica das relações de classe. As organizações populares, organizações de base, a igreja progressista, o novo sindicalismo, os partidos políticos democráticos, etc. – todos faziam parte da sociedade civil e se articulavam pela conquista da democracia em clara contraposição ao Estado opressor. Contudo, além das organizações populares, a luta pela democratização contou com forte apoio dos setores da burguesia, que não mais conseguiam que seus interesses fossem representados, através do poder ideológico do Estado, como interesses universais, de todas as classes e grupos sociais.

Essa luta chegou ao seu momento mais marcante no período de 1983-1984 com a campanha das Diretas Já, quando foram realizados grandes comícios nas principais cidades brasileiras em apoio ao projeto de lei que reestabelecia eleições diretas para presidente da república. Abaixo imagens do comício pelas Diretas Já realizado em São Paulo no dia 16 de abril de 1984.

Cabe aqui um esclarecimento de como funcionava a eleição para presidente durante o regime militar no Brasil: o presidente da república era eleito de forma indireta pelos deputados e senadores, ou seja, não havia eleição para presidente pelo voto direto do povo nas urnas, o eleitor escolhia seus deputados e senadores entre os candidatos dos partidos e esses eleitos formavam o colégio eleitoral que elegia o presidente da república.

Apesar da não aprovação do projeto de lei que estabelecia a eleição direta, a mobilização da sociedade civil fez com que nas eleições indiretas para presidente o candidato da oposição, Tancredo Neves, fosse eleito presidente da república. Apesar de seu falecimento antes da posse e da nomeação de seu vice José Sarney, o fim do regime militar estava decretado e a democracia seria institucionalizada com a promulgação da Constituição de 1988, que instaurou o regime democrático de direito,ou seja, regido por leis, que reestabeleceu eleições diretas para todos os cargos executivos e legislativos no Brasil.


Portanto, pelo que vimos nessa aula, a sociedade civil teve no Brasil papel importante e determinante na reconstrução democrática e sendo a democracia um processo vivo e em permanente transformação é necessário que a participação da sociedade civil seja efetiva e constante para a garantia e aumento dos direitos conquistados.

domingo, 23 de agosto de 2015

PROJETO CINE DEBATE: TEXTO COMPLEMENTAR DE SOCIOLOGIA. 3º ANO. ENSINO MÉDIO

O golpe de 1964 e a instauraçao do regime militar

Na madrugada do dia 31 de março de 1964, um golpe militar foi deflagrado contra o governo legalmente constituído de João Goulart. A falta de reação do governo e dos grupos que lhe davam apoio foi notável. Não se conseguiu articular os militares legalistas. Também fracassou uma greve geral proposta pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) em apoio ao governo. João Goulart, em busca de segurança, viajou no dia 1o de abril do Rio, para Brasília, e em seguida para Porto Alegre, onde Leonel Brizola tentava organizar a resistência com apoio de oficiais legalistas, a exemplo do que ocorrera em 1961. Apesar da insistência de Brizola, Jango desistiu de um confronto militar com os golpistas e seguiu para o exílio no Uruguai, de onde só retornaria ao Brasil para ser sepultado, em 1976. 

Antes mesmo de Jango deixar o país, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, já havia declarado vaga a presidência da República. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu interinamente a presidência, conforme previsto na Constituição de 1946, e como já ocorrera em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros. O poder real, no entanto, encontrava-se em mãos militares. No dia 2 de abril, foi organizado o autodenominado "Comando Supremo da Revolução", composto por três membros: o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo (Aeronáutica), o vice-almirante Augusto Rademaker (Marinha) e o general Artur da Costa e Silva, representante do Exército e homem-forte do triunvirato. Essa junta permaneceria no poder por duas semanas.
Nos primeiros dias após o golpe, uma violenta repressão atingiu os setores politicamente mais mobilizados à esquerda no espectro político, como por exemplo o CGT, a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e grupos católicos como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP). Milhares de pessoas foram presas de modo irregular, e a ocorrência de casos de tortura foi comum, especialmente no Nordeste. O líder comunista Gregório Bezerra, por exemplo, foi amarrado e arrastado pelas ruas de Recife. 
A junta baixou um "Ato Institucional" – uma invenção do governo militar que não estava prevista na Constituição de 1946 nem possuía fundamentação jurídica. Seu objetivo era justificar os atos de exceção que se seguiram. Ao longo do mês de abril de 1964 foram abertos centenas de Inquéritos Policiais-Militares (IPMs). Chefiados em sua maioria por coronéis, esses inquéritos tinham o objetivo de apurar atividades consideradas subversivas. Milhares de pessoas foram atingidas em seus direitos: parlamentares tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos suspensos e funcionários públicos civis e militares foram demitidos ou aposentados. Entre os cassados, encontravam-se personagens que ocuparam posições de destaque na vida política nacional, como João Goulart, Jânio Quadros, Miguel Arraes, Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes. 

Entretanto, o golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja católica, vários governadores de estados importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de Barros, de São Paulo) e amplos setores de classe média pediram e estimularam a intervenção militar, como forma de pôr fim à ameaça de esquerdização do governo e de controlar a crise econômica. O golpe também foi recebido com alívio pelo governo norte-americano, satisfeito de ver que o Brasil não seguia o mesmo caminho de Cuba, onde a guerrilha liderada por Fidel Castro havia conseguido tomar o poder. Os Estados Unidos acompanharam de perto a conspiração e o desenrolar dos acontecimentos, principalmente através de seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido, através da secreta "Operação Brother Sam", dar apoio logístico aos militares golpistas, caso estes enfrentassem uma longa resistência por parte de forças leais a Jango. 

Os militares envolvidos no golpe de 1964 justificaram sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas e deter a "ameaça comunista" que, segundo eles, pairava sobre o Brasil. Uma idéia fundamental para os golpistas era que a principal ameaça à ordem capitalista e à segurança do país não viria de fora, através de uma guerra tradicional contra exércitos estrangeiros; ela viria de dentro do próprio país, através de brasileiros que atuariam como "inimigos internos" – para usar uma expressão da época. Esses "inimigos internos" procurariam implantar o comunismo no país pela via revolucionária, através da "subversão" da ordem existente – daí serem chamados pelos militares de "subversivos". Diversos exemplos internacionais, como as guerras revolucionárias ocorridas na Ásia, na África e principalmente em Cuba, serviam para reforçar esses temores. Essa visão de mundo estava na base da chamada "Doutrina de Segurança Nacional" e das teorias de "guerra anti-subversiva" ou "anti-revolucionária" ensinadas nas escolas superiores das Forças Armadas.
Os militares que assumiram o poder em 1964 acreditavam que o regime democrático que vigorara no Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial havia se mostrado incapaz de deter a "ameaça comunista". Com o golpe, deu-se início à implantação de um regime político marcado pelo "autoritarismo", isto é, um regime político que privilegiava a autoridade do Estado em relação às liberdades individuais, e o Poder Executivo em detrimento dos poderes Legislativo e Judiciário. 
Já no início da "Revolução" ficou evidente uma característica que permaneceria durante todo o regime militar: o empenho em preservar a unidade por parte dos militares no poder, apesar da existência de conflitos internos nem sempre bem resolvidos. O medo de uma "volta ao passado" (isto é, à realidade política pré-golpe) ou de uma ruptura no interior das Forcas Armadas estaria presente durante os 21 anos em que a instituição militar permaneceu no controle do poder político no Brasil. Mesmodesunidos internamente em muitos momentos, os militares demonstrariam um considerável grau de união sempre que vislumbravam alguma ameaça "externa" à "Revolução", vinda da oposição política. 

A falta de resistência ao golpe de 1964 não deve ser vista como resultado da derrota diante de uma bem articulada conspiração militar. Foi clara a falta de organização e coordenação entre os militares golpistas. Mais do que uma conspiração única, centralizada e estruturada, a imagem mais fidedigna é a de "ilhas de conspiração", com grupos unidos ideologicamente pela rejeição da política pré-1964, mas com baixo grau de articulação entre si. Não havia um projeto de governo bem definido, além da necessidade de se fazer uma "limpeza" nas instituições e recuperar a economia. O que diferenciava os militares golpistas era a avaliação da profundidade necessária à intervenção militar. 

Desde o início havia uma nítida diferenciação entre, de um lado, militares que clamavam por medidas mais radicais contra a "subversão" e apoiavam uma permanência dos militares no poder por um longo período e, de outro lado, aqueles que se filiavam à tradição de intervenções militares "moderadoras" na política – como havia acontecido, por exemplo, em 1930, 1945 e 1954 – seguidas de um rápido retorno do poder aos civis. Os mais radicais aglutinaram-se em torno do general Costa e Silva; os outros, do general Humberto de Alencar Castelo Branco. 

Articulações bem-sucedidas na área militar de um grupo de oficiais pró-Castelo e o apoio dos principais líderes políticos civis favoráveis ao golpe foram decisivos para que, no dia 15 de abril de 1964, Castelo Branco assumisse a presidência da República, eleito, dias antes, por um Congresso já bastante expurgado. O novo presidente assumiu o poder prometendo a retomada do crescimento econômico e o retorno do país à "normalidade democrática". Isto, no entanto, só ocorreria 21 anos mais tarde. É por isso que 1964 representa um marco e uma novidade na história política do Brasil: diferentemente do que ocorreu em outras ocasiões, desta vez militares não apenas deram um golpe de Estado, como permaneceram no poder.

Celso Castro

Fonte: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Golpe1964

ENTREVISTA DE UMA CIDADÃ TORTURADA PELA DITADURA MILITAR

Leia a entrevista

TEXTO PARA A ATIVIDADE 3 DE SOCIOLOGIA. 2º ANO. 3º BIMESTRE. ENSINO MÉDIO

Vamos refletir sobre esta forma precária de trabalho que é o trabalho escravo no século XXI?
1. Leia o seguinte relato:

A pele de Manuel se transformou em couro, curtida anos a fio pelo sol da Amazônia e pelo suor de seu rosto. No Sudeste do Pará, onde boi vale mais que gente, talvez isso lhe fosse útil. Mas acabou servente dos próprios bois, com a tarefa de limpar o pasto. “Fizeram açude para o gado beber e nós bebíamos e usávamos também.” Trabalhava de domingo a domingo, mas nada de pagamento, só feijão, arroz e a lona para cobrir-se de noite. Um outro tipo de cerca, com farpas que iam mais fundo, o impedia de desistir: “O fiscal de serviço andava armado. Se o pessoal quisesse ir embora sem terminar a tarefa, eles ameaçavam, e aí o sujeito voltava.”

OIT. TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL XXI. Coord. do estudo, Leonardo Sakamoto. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2007 . Pág.17

AULA 3 DE SOCIOLOGIA DO 2º ANO. 3º BIMESTRE. ENSINO MÉDIO

TRABALHO ESCRAVO NO SÉCULO XXI?

Embora a abolição da escravatura tenha acontecido no Brasil em 1888, ou seja, no século XIX, hoje, em pleno século XXI, podemos falar que ainda existe trabalho escravo em nosso país. Porém, a escravidão contemporânea tem algumas características diferentes da escravidão anterior. Nesta aula, vamos refletir juntos sobre o que é e como acontece o trabalho escravo no século XXI.

Atualmente, considera-se trabalho escravo a forma degradante de trabalho na qual o trabalhador não tem a garantia de sua liberdade. Na zona rural, na qual se encontra a maior incidência de trabalho escravo, os trabalhadores aliciados, ou seja, seduzidos pela falsa promessa de um bom emprego, são vítimas de fazendeiros que buscam baixos custos e lucros fáceis por meio da exploração da mão de obra escrava, se aproveitando da situação de vulnerabilidade dos mais pobres. O Brasil é referência mundial no combate contra o trabalho forçado e busca erradicar essa forma de trabalho.

Como dissemos, o trabalho escravo é uma forma degradante de trabalho na qual o trabalhador não tem garantida sua liberdade sendo, na maioria das vezes, escravizado pela servidão por dívida ilegalmente atribuída ao trabalhador, pelo isolamento geográfico que impede a fuga e pela constante ameaça a sua vida. Mas como o trabalho escravo acontece atualmente?

Os “gatos”, que são contratadores de mão de obra a serviço dos fazendeiros, aliciam os trabalhadores oferecendo uma oportunidade de serviço em fazendas, prometendo salário, alojamento e comida. Para convencer o trabalhador, oferecem o transporte até a fazenda e um “adiantamento” para a família. Os trabalhadores em busca de uma oportunidade de emprego e para garantir a sua sobrevivência e de sua família aceitam a proposta. Porém, quando chegam ao serviço o gato lhes informa que eles têm uma dívida, anotada em um caderno. Neste caderno são anotadas as dívidas com o adiantamento, o transporte e as despesas de alimentação até a fazenda. Também são anotadas as dívidas com os instrumentos que o trabalhador precisa para o trabalho, as despesas com moradia e alimentação. Assim, o trabalhador não pode se desligar devido à divida ilegalmente atribuída a ele e, caso tente fugir, é ameaçado podendo perder sua própria vida. Dessa forma, as dividas e as ameaças físicas tornam-se correntes e tiram a liberdade do trabalhador escravizado.

Como estes trabalhadores são libertos desta situação? Os chamados Grupos móveis de fiscalização, formados por auditores fiscais do trabalho, procuradores do trabalho e policiais, atuam fiscalizando as propriedades e apurando denúncias de trabalho escravo e, uma vez confirmada a situação de trabalho escravo, libertam os trabalhadores. Na maioria das vezes, os trabalhadores escravizados são encontrados vivendo em situações degradantes, morando em precários barracos de plástico, bebendo água envenenada ou doente e sem assistência médica.



Na zona rural, a pecuária é uma das principais atividades que utilizam trabalho escravo para tarefas como derrubada de mata para pastagem e retirada de plantas indesejáveis com uso de venenos. Este trabalho é feito sem equipamentos de segurança o que leva o trabalhador a ser vítima de graves acidentes de trabalho, como mutilação, feridas na pele ou intoxicação. Também há casos de trabalho escravo nas cidades, principalmente, nas oficinas de costura e canteiro de obras. O Tocantins e a região Nordeste, principalmente os estados do Maranhão e do Piauí, são grandes fornecedores de mão de obra escrava e o Pará é o principal utilizador destes trabalhadores escravizados. As principais vítimas do trabalho escravo são os homens na faixa etária dos 18 aos 40 anos. Na zona urbana, há um grande número de sul americanos, principalmente bolivianos, em situação de trabalho escravo, sobretudo nas oficinas de costura.

AULA 2 DE SOCIOLOGIA DO 2º ANO. 3º BIMESTRE. ENSINO MÉDIO



MERCADO DE TRABALHO E DESIGUALDADES

Vamos começar ouvindo uma musica da Elza Soares.

“A carne mais barata do mercado é a carne negra Que vai de graça pro presídio E para debaixo de plástico Que vai de graça pro subemprego E pros hospitais psiquiátricos...
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que fez e faz história Segurando esse país no braço ...”
A carne – Elza Soares

Por que será que a cantora Elza Soares afirma em sua música “A carne” que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”? Nesta aula vamos refletir juntos sobre como as desigualdades sociais se manifestam também no mercado de trabalho.
Estudos sobre o mercado de trabalho no Brasil apontam que a maioria que trabalha informalmente é pobre e, no nosso país, a parcela mais pobre da população é significativamente constituída por mulheres e negros. Dessa forma as mulheres e os negros são as pessoas mais vulneráveis no mercado de trabalho. Você deve estar se perguntando: por que há essa desigualdade no nosso país?

Para começarmos a compreender essa desigualdade é preciso pensar no papel que, em nossa sociedade, é atribuído a mulher e que chamamos de gênero. Culturalmente atribuímos à mulher o cuidado com a casa e com os filhos. Esse papel social culturalmente construído influencia no mercado de trabalho já que estudiosos observam que as mulheres concentram-se nas ocupações relacionadas ao cuidado, ao comércio e na prestação de serviços pessoais como, por exemplo, o serviço doméstico, a enfermagem, a assistência social e o ensino primário. Em nossa sociedade essas ocupações têm baixo prestígio social e remuneração.


O mercado de trabalho brasileiro também é marcado pela desigualdade racial. Estudos apontam que os trabalhos mais desvalorizados socialmente e com os salários mais baixos são ocupados em grande parte por negros. As mulheres negras sofrem ainda dupla discriminação: de raça e de gênero. Isso acontece graças a nossa herança histórica da colonização e da escravidão quando os negros não tinham os direitos de cidadania garantidos, sobretudo o direito a educação. Essa herança produz e reproduz desigualdades até os dias de hoje.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

TEXTO OBRIGATÓRIO PARA A ATIVIDADE 3 DE SOCIOLOGIA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO

Trabalho escravo no século XXI?

Embora a abolição da escravatura tenha acontecido no Brasil em 1888, ou seja, no século XIX, hoje, em pleno século XXI, podemos falar que ainda existe trabalho escravo em nosso país. Porém, a escravidão contemporânea tem algumas características diferentes da escravidão anterior. Nesta aula, vamos refletir juntos sobre o que é e como acontece o trabalho escravo no século XXI.
Atualmente, considera-se trabalho escravo a forma degradante de trabalho na qual o trabalhador não tem a garantia de sua liberdade. Na zona rural, na qual se encontra a maior incidência de trabalho escravo, os trabalhadores aliciados, ou seja, seduzidos pela falsa promessa de um bom emprego, são vítimas de fazendeiros que buscam baixos custos e lucros fáceis por meio da exploração da mão de obra escrava, se aproveitando da situação de vulnerabilidade dos mais pobres. O Brasil é referência mundial no combate contra o trabalho forçado e busca erradicar essa forma de trabalho.
Como dissemos, o trabalho escravo é uma forma degradante de trabalho na qual o trabalhador não tem garantida sua liberdade sendo, na maioria das vezes, escravizado pela servidão por dívida ilegalmente atribuída ao trabalhador, pelo isolamento geográfico que impede a fuga e pela constante ameaça a sua vida. Mas como o trabalho escravo acontece atualmente?
Os “gatos”, que são contratadores de mão de obra a serviço dos fazendeiros, aliciam os trabalhadores oferecendo uma oportunidade de serviço em fazendas, prometendo salário, alojamento e comida. Para convencer o trabalhador, oferecem o transporte até a fazenda e um “adiantamento” para a família. Os trabalhadores em busca de uma oportunidade de emprego e para garantir a sua sobrevivência e de sua família aceitam a proposta. Porém, quando chegam ao serviço o gato lhes informa que eles têm uma dívida, anotada em um caderno. Neste caderno são anotadas as dívidas com o adiantamento, o transporte e as despesas de alimentação até a fazenda. Também são anotadas as dívidas com os instrumentos que o trabalhador precisa para o trabalho, as despesas com moradia e alimentação. Assim, o trabalhador não pode se desligar devido à divida ilegalmente atribuída a ele e, caso tente fugir, é ameaçado podendo perder sua própria vida. Dessa forma, as dividas e as ameaças físicas tornam-se correntes e tiram a liberdade do trabalhador escravizado.
Como estes trabalhadores são libertos desta situação? Os chamados Grupos móveis de fiscalização, formados por auditores fiscais do trabalho, procuradores do trabalho e policiais, atuam fiscalizando as propriedades e apurando denúncias de trabalho escravo e, uma vez confirmada a situação de trabalho escravo, libertam os trabalhadores. Na maioria das vezes, os trabalhadores escravizados são encontrados vivendo em situações degradantes, morando em precários barracos de plástico, bebendo água envenenada ou doente e sem assistência médica.

Na zona rural, a pecuária é uma das principais atividades que utilizam trabalho escravo para tarefas como derrubada de mata para pastagem e retirada de plantas indesejáveis com uso de venenos. Este trabalho é feito sem equipamentos de segurança o que leva o trabalhador a ser vítima de graves acidentes de trabalho, como mutilação, feridas na pele ou intoxicação. Também há casos de trabalho escravo nas cidades, principalmente, nas oficinas de costura e canteiro de obras. O Tocantins e a região Nordeste, principalmente os estados do Maranhão e do Piauí, são grandes fornecedores de mão de obra escrava e o Pará é o principal utilizador destes trabalhadores escravizados. As principais vítimas do trabalho escravo são os homens na faixa etária dos 18 aos 40 anos. Na zona urbana, há um grande número de sul americanos, principalmente bolivianos, em situação de trabalho escravo, sobretudo nas oficinas de costura.

sábado, 15 de agosto de 2015

DIVULGANDO APLICATIVO

SOCIOLOGIA – 1º, 2º e 3º ANO Ensino Médio 

RUDOLF ROTCHILD

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QUEM SOU EU?

Mar Portuguez

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa, Mensagem


Este poema “Mar portuquez” de Fernando Pessoa me persegue e traduz a minha trajetória profissional e acadêmica.
Comecei na educação num impulso de querer dar certo, de querer cruzar “os mares” que antes não tinha nem me dado conta que existia. Quer ser artista? Quer ser educador? Uma oportunidade me foi ofertada em agosto de 1993. Recém formado em técnico de edificações, via no Projeto da Animação Cultural do professor Darcy Ribeiro uma oportunidade de conhecer este “mar” nunca antes navegado.

“O mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”.

Fui conhecendo uma realidade que ainda me desafia e cansa. Trabalhar em escolas públicas de periferia, é como vê a desigualdade social de perto sem nenhum mascaramento midiático. É assustador e desafiante ao mesmo tempo. E eu ainda não desisti. Estou aqui neste curso buscando novos atributos que possa me reinventar agora como artista-educador. Será que é isso que eu sou? Considero que no início desta trajetória pude me reinventar durante 18 anos na Animação Cultural, sendo um competente animador cultural. Realizei tantas coisas: exposições, festas, espetáculos, musicais... Ultrapassei tantos obstáculos que acabei buscando a lapidação do meu ser, do meu artesão intelectual em cidades históricas do nosso Brasil Cultural como Ouro Preto. E foi nas ladeiras da rua da direita que encontrei uma vontade de ir além. De voltar a estudar. E depois de tantas oficinas e cursos na área de teatro, literatura, artes plásticas... Fazer um curso universitário naquele momento se transformava na minha grande meta. Os Festivais de Inverno de Ouro Preto foram uma escola sem paredes, sem carteiras, sem bancos. Uma escola que não cabia em nenhum edifício. Se os homens soubessem da importância que tem a experiência, o lado lúdico da vida. Empirismo sim, por que não? Precisamos humanizar a intelectualidade.
De volta para a realidade mais dura, sóbria e densa, enfrentei as preparações “vestibulescas” e depois de várias tentativas não bem sucedidas, acabei me encontrando intelectualmente no curso de Ciências Sociais. O ano era 2000, o ano que tudo acabaria em cinzas. Para mim foi o ano do recomeço. A vida acadêmica. Num processo de reconstrução que durou cinco anos e meio, fiz do meu trabalho como Animador Cultural uma porta para o universo das discussões teóricas. A minha monografia enfatizava a vida de um aluno que tinha experienciado o Movimento dos Sem-Terra. Foi incrível ser um observador-participante. Tomei banho de rio, caminhei por entre as matas e transformei tudo em pesquisa. O encanto soava os meus ouvidos:

Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.”

Depois de (dês)formado, a minha pesquisa que virou monografia de final de curso me levou para um Congresso na Argentina, na província de Salta. Mais uma experiência que não consigo traduzir em palavras. Apresentar a minha pesquisa em terras “hermanas”, me deu um motivo maior. Na ânsia de  ser um artista-educador mais uma vez, fui almejando a possibilidade de ser um educador da sociologia através da parceria que a Universidade Cândido Mendes com o Instituto A vez do Mestre estava dando para os recém formados que não tinham a devida formação pedagógica.
 Encarei um ano e alguns meses. Fui bem sucedido. Logo já estava atuando como professor de sociologia em uma escola privada da cidade de Campos dos Goytacazes.

Quem quer passar além do Bojador, Tem que passar além da dor.”

Assim fui adiante e sem pestanejar acabei sendo professor da escola de ensino fundamental que tinha me ajudado naquela formação de sonhador. Refiro-me ao Instituto de Educação Professor Aldo Muylaert.  Nos momentos que os meninos mais severos queriam me bater por ser diferente, os professores dessa escola foram depositando em mim a crença e a esperança de dias melhores. Não abri mão desses ensinamentos. Hoje estou em Resende, trabalhando como educador-artista da SEEDUC-RJ em duas matrículas. Hoje estou mais uma vez me reinventando e me propondo a não parar no meio do caminho. A vida vale à pena. Busco nesse curso de pós-graduação uma continuidade da minha formação.
Bom, preferi me apresentar desta forma, pois o mundo está muito irracional. A razão também se apresenta como poesia. Queria ir além do currículo formal. Por que não podemos nos apresentar desta forma? Quero fugir dos padrões. E para que tantos padrões? Não estamos aqui para reinventá-los? Não quero desistir de ser um artista-educador, assim como Fernando Pessoa não desistiu de ser um poeta navegador.

 Insisto em dizer que nessa vida de busca :
Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.”


Rudolf Rotchild Costa Cavalcante

DADOS SOBRE A DESIGUALDADE SOCIAL E O TRABALHO INFORMAL




TEXTO COMPLEMENTAR DE FILOSOFIA - 2º ANO E.M

Super-Heróis e a filosofia - Verdade, justiça e o caminho socrático

O que o mundo colorido dos super-heróis tem em comum com o universo sisudo e complexo da filosofia? Para o pesquisador William Irwin   e seus colaboradores, muita coisa. Partindo de histórias conhecidas, como as do Homem-Aranha, Superman e Quarteto Fantástico, um grupo seleto de autores debate as questões filosóficas e de sabedoria que residem ocultas em muitas vezes ingênuas histórias em quadrinhos de heróis fantasiados. Coisas que nós leitores não prestamos a devida atenção em meio aos lugares-comuns desse gênero que já faz parte do imaginário coletivo.
Como em toda coletânea, há artigos melhor acabados, capazes de despertar no leitor questionamentos não apenas sobre o que há escondido por trás dos colantes dos super-heróis, como também sobre como funciona o nosso próprio inconsciente com relação às nossas fantasias ao poder. Nesses momentos, o livro se mostra uma agradável surpresa, levantando questões éticas, morais e sociais embasadas em teorias de filósofos como Sócrates, Platão, Kant e Kierkegaard, entre diversos outros.
Infelizmente, alguns dos textos mais fracos são exatamente os assinados por autores de quadrinhos, como o escrito por Jeph Loeb junto com um dos organizadores da coletânea, Tom Morris. O texto se resume a um apanhado de conselhos moralistas, sem entrar muito fundo nos aspectos filosóficos. Dennis O´Neil, autor do Guia oficial DC Comics: Roteiros, acaba se saindo um pouco melhor, dando um toque de bom humor ao tema. Há também escorregões como o do artigo "Por que os super-heróis devem ser bons?", que usa a heroína Tempestade (dos X-Men) como exemplo de heroína perfeita, tendo com base a sua unidimensional versão cinematográfica (interpretada pela atriz Halle Berry) em vez de explorar esse aspecto indo direto na fonte real: os quadrinhos. Mas não são deslizes que tornem a leitura um problema. Os acertos e descobertas da grande maioria dos textos é de instigar a curiosidade do leitor.
Um bom exemplo dos ensaios interessantes que compõem o livro é o texto de Tom Morris, intitulado "Deus, o Diabo e Matt Murdock", em que o autor disseca a fundo os traços de personalidade do alter ego do Demolidor, reconhecendo padrões de comportamento católicos em conflito com a vida que o personagem leva. Partindo de situações coerentes estabelecidas principalmente por Frank Miller e Kevin Smith em diferentes fases, Morris explica como a filosofia católica aparece nos atos de Murdock, um personagem complexo e cheio de angústias e contradições, mas também dotado de uma motivação altruísta sem paralelos.
Outro ponto alto é o texto "O Quarteto Fantástico como família: O maior de todos os laços", deChris Ryall e Scott Tipton, em que a relação entre cada um dos membros dessa família é dissecada de forma tão clara que é possível encontrar paralelos com a sua própria família durante a leitura. Além desses, a série de artigos sobre "Super-heróis e o dever moral", levanta questões éticas muito interessantes: por que os heróis são bons?; se eles realmente devem sê-lo; sua moral e a questão da responsabilidade. Análises estas, feitas sempre se pensando nas questões que fazem parte do nosso cotidiano e não são apenas um exercício de imaginação a respeito de super-seres coloridos. Citações e reflexões sobre Watchmen, O Reino do Amanhã, Cavaleiro das Trevas e Crise nas Infinitas Terras revelam aspectos do heroísmo e da própria existência humana em situações extremas.
O título vem se juntar ao acervo de obras similares lançadas pela editora, que possui vários outros livros com ensaios filosóficos tendo como ponto de partida ícones pop como Harry Potter, Star Wars, Matrix, A Família Soprano e Buffy - A caça-vampiros. Infelizmente, a versão nacional do livro não faz bonito ao promover seu produto. A começar pela capa, que utiliza os personagens da Liga da Justiça da versão animada, não despertando, numa olhada rápida na prateleira, credibilidade aos assuntos discutidos em seu conteúdo. A ilustração é claramente calcada em material promocional da DC, fato não mencionado nos créditos. Iconograficamente o livro também é muito pobre, pois fragmenta a mesma imagem para ilustrar cada capítulo, chegando até mesmo ao cúmulo de publicar a imagem do Super-Homem com o "S" invertido. Sem falar que ilustrar tópicos sobre os heróis da editora Marvel com personagens da DC Comics é, no mínimo, um erro desnecessário.
Também  é importante salientar a falta de interesse da tradução em pesquisar um pouco a respeitos dos personagens que compõem o livro. Praticamente todos os quadrinhos citados já foram publicados no Brasil, mas estão todos citados em inglês (inclusive as referências bibliográficas remetem apenas às edições americanas), o que pode dificultar o entendimento de quem não é familiarizado com os últimos 20 anos de HQs de heróis publicadas no Brasil. Não bastasse isso, quando se arrisca, a tradução não poderia ser mais equivocada. O extraterrestre conhecido por nós como o Vigia, foi rebatizado de Observador (nome que só teve na primeira dublagem brasileira dos desenhos desanimados da Marvel) e a Fortaleza da Solidão do Super-Homem virou Fortaleza da Solitude. Fora os escorregões feios, como rebatizar a simpática tia May (do Homem-Aranha), de tia Mary. Ou seja, o livro merecia um tratamento mais cuidadoso e alguma consultoria.
Mas se ignorarmos esses deslizes, encontraremos um material muito proveitoso. Afinal, em muitos casos, a análise supera em muito as intenções originais dos autores dos quadrinhos. Ou seja, ao analisarem as implicações filosóficas, os pensadores reunidos no livro descobrem nuances talvez nunca imaginadas pelos próprios roteiristas, o que demonstra a riqueza e coerência de muitas criações. Após a leitura, termos como teísmo, utilitarismo e existencialismo podem ficar tão familiares quanto kriptonita, multiverso e raios cósmicos.
Em suma, o livro é uma leitura altamente recomendada não só aos curiosos, mas também aos roteiristas que produzem HQs de qualquer gênero, graças à reflexão séria proposta a respeito dos motivos que levam esses personagens a sobreviverem por tantas décadas. Caso a esmagadora maioria de roteiristas medíocres que teimam em queimar personagens de grande potencial em batalhas fúteis parasse para entender as complexas questões que povoam as entrelinhas (ou entre-quadros) dos quadrinhos dos vigilantes mascarados, certamente o leitor ganharia bastante ao encontrar nas bancas quadrinhos que realmente unem arte, entretenimento e (por que não?) questionamento.

ALEXANDRE NAGADO E JOSÉ AGUIAR


Fonte: http://omelete.uol.com.br/games/artigo/super-herois-e-a-filosofia-verdade-justica-e-o-caminho-socratico/

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

CRESCIMENTO DO TRABALHO INFORMAL

Trabalho informal aumenta em meio a onda recente de demissões
Dezenas de milhares de trabalhadores que perderam o emprego com carteira assinada têm vivido de bicos ou trabalhado como autônomos enquanto procuram uma nova oportunidade.

Brasília - A onda recente de demissões tem empurrado cada vez mais trabalhadores para a informalidade no Brasil, deixando-os mais vulneráveis a uma recessão que pode ser a pior em 25 anos.

Dezenas de milhares de trabalhadores que perderam seus empregos com carteira assinada têm vivido de bicos ou trabalhado como autônomos enquanto procuram uma nova oportunidade. Nesse processo, muitas vezes deixam de contribuir para a Previdência Social e ficam com dificuldades para obter crédito.
O trabalho por conta própria, na maioria dos casos com rendimento inferior a R$ 1.300 por mês, já representa 19,5% de todas as ocupações nas principais cidades do Brasil - maior nível em oito anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para janeiro.

história de pessoas como José Lúcio da Silva, 55, ilustra a intensidade com que a economia brasileira e o mercado de trabalho têm perdido o vigor da última década.
"O patrão falou que o serviço estava devagar. Sem serviço, quase. Então ele dispensou a gente," disse Silva, que trabalhou como impermeabilizador em obras em Brasília, com carteira assinada, ao longo dos últimos 30 anos.

Ele está a apenas cinco anos da aposentadoria - mas antes quer voltar a trabalhar com carteira assinada e continuar a contribuir para a Previdência.
"Não é toda hora que tem um bico para você fazer. Tem um biquinho aqui, outro ali, mas às vezes demora para aparecer."

O enfraquecimento do mercado de trabalho é um problema para a economia brasileira, já estagnada, e para a presidente Dilma Rousseff, que conseguiu a reeleição em outubro passado em grande medida graças ao baixo desemprego.
Desde então, a popularidade dela despencou, com 62 por cento das pessoas julgando seu governo como "ruim" ou "péssimo", segundo pesquisa do Datafolha divulgada nesta semana. 

Embora os dados mais recentes do IBGE não tenham detalhes sobre renda ou escolaridade, outros levantamentos revelam que o trabalhador por conta própria típico é homem, de meia idade, com atividade de baixa ou média renda. Mais da metade trabalha na agricultura, construção ou comércio, seja como vendedor ambulante ou representante autônomo.

O trabalhador por conta própria não é considerado um desempregado, a menos que se declare como tal, o que ajuda a manter a taxa de desemprego em níveis relativamente baixos. Apenas um quarto desses trabalhadores contribui para a Previdência.

Fora do mercado formal, eles pagam menos impostos, o que também prejudica os esforços do governo de ampliar a arrecadação, reduzir o déficit fiscal e manter o grau de investimento da dívida pública.
O Brasil já teve momentos muito piores: o mercado de trabalho continua bem mais robusto que no início dos anos 2000, quando a taxa de desemprego rondava os 13 por cento e o salário mínimo era um terço dos 788 reais de hoje.

Anos de rápido crescimento econômico e políticas de combate à pobreza ajudaram a tirar milhões de pessoas da pobreza; até poucos anos atrás, o emprego avançava tão rapidamente que era difícil encontrar pintores ou faxineiras disponíveis.
Esse avanço, no entanto, estancou.

O ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, disse que o governo trabalha para garantir que todos os trabalhadores autônomos sejam devidamente registrados.

"O emprego se tornou muito instável," disse Afif, que trabalha com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em um projeto de lei para ampliar o regime tributário facilitado para trabalhadores autonômos e pequenas empresas, o SuperSimples. "Se o mercado não facilita contratação, sem dúvida ele corre para trabalhar por conta própria."

Apesar do aumento do trabalho por conta própria, o número de inscritos no cadastro de empreendedores individuais do governo tem aumentado a uma taxa mais moderada nos últimos meses, de acordo com dados do próprio governo.
Enquanto isso, o número de trabalhadores com carteira assinada caiu 1,9 por cento em janeiro ante janeiro de 2014, maior taxa anual em 11 anos, em mais um sinal de que a informalidade tem aumentado após anos de queda contínua ao longo da década passada.

"SEM UM CENTAVO"
Altos impostos e contribuições sociais fazem do Brasil um dos lugares mais caros do mundo para o emprego formal.
Empresas precisam pagar 17 mil dólares ao ano em impostos e contribuições para cada 30 mil em salários, mais do que o dobro da média global, segundo um estudo de 2013 da consultoria britânica UHY. No México, esse custo é inferior a 7 mil dólares.

Mais de 600 mil empregos formais foram fechados desde outubro , segundo dados do governo. Nos dois primeiros meses do ano, a perda chega a 80 mil vagas. A situação deve piorar ao longo deste ano, de acordo com 69 por cento das pessoas entrevistadas pelo Datafolha, já que a economia não cresce. Segundo expectativas do mercado, o PIB deve encolher 0,8 por cento este ano, pior taxa desde 1990.

A taxa de pessoas trabalhando por conta própria tem aumentado desde o final de 2012. Antes disso, o único período de crescimento no passado recente foi em 2009, logo após a crise financeira internacional, mas que durou pouco.
"Eu ficaria surpreso se a gente conseguisse uma retomada como em 2009. Lá tinha uma crise internacional, mas com mercado interno aqui ainda forte," disse Carlos Henrique Corseuil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Mário Ramos, 47, diz que não pode esperar muito. Depois de perder o emprego como vigia no ano passado, seu seguro-desemprego terminou em janeiro. Agora ele pensa em vender sua pequena chácara na periferia de Brasília para tentar comprar um caminhão e fazer entregas.
"Não tenho nenhum centavo na minha carteira."


Fonte: Reutersredacao@brasileconomico.com.br