terça-feira, 30 de março de 2010

LAMPIÃO E O CANGAÇO - BANDITISMO SOCIAL BRASILEIRO

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

Estratificação Social
Objetivo: Descrever as desigualdades sociais existentes entre os indivíduos e os grupos sociais. As desigualdades estão relacionadas ao acesso aos bens materiais e aos bens simbólicos.
Sistemas de estratificação:
Os estados (relações pessoais de dever ou de obrigação)
Senhores – aristocracia e pequena nobreza rural;
Clero;
Povo: Mercadores (comerciantes), artesãos e servos.
Escravatura (sociedade patriarcal)
Proprietários brancos – senhores de engenho
Brancos livres;
Pardos claros: índios e mulatos mais escuros com brancos;
Pardos mais escuros
Pretos livres – “Crioulos”
Cativos – Mulatos, pretos crioulos e pretos africanos ou “de nação”.
Casta(não há mobilidade)
Brahmanes (sábios/sacerdotes)
Kshatriya (Guerreiros);
Vaishas (comerciantes);
Sudras (trabalhos manuais);
Párias (miseráveis).
Mobilidade social
Movimento ascendente e descendente dos indivíduos ou dos grupos sociais em termos de status sociais.
ALTA – Chance de alcançar uma posição mais elevada de classe social;
BAIXA – A sua posição fica congelada no status de seus antepassados.
Visão de A. Giddens:
VERTICAL – movimento ascendente e descendente na hierarquia de um sistema de estratificação;
HORIZONTAL – Movimento de posições sociais dentro da mesma camada social.
Coeficiente de GINI
Medidas de desigualdade mais utilizada pelos especialistas. O seu índice varia entre 0 – 1.
Quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade;
Quanto mais próximo do 0, maior a igualdade.


Aula indicada para o 2° ano do Ensino Médio do IDB.

BANDITISMO SOCIAL

Banditismo social
Para a sociedade moralista e sectária, bandido é qualquer um que pertença a um grupo de homens que atacam e roubam com violência, desde ladrões de esquina até rebeldes ou guerrilheiros organizados.
Os bandidos sociais (rebelião social) tem como origem o campo, são considerados criminosos pelo estado e pelo senhor das terras que trabalham, contudo a sua gente os considera como heróis, campeões, vingadores, justiceiros, líderes da libertação, homens admirados.
O grande paradigma/ícone internacional do banditismo social é o ROBIN WOOD.
O banditismo social mobiliza principalmente camponeses e trabalhadores sem terras, governados, oprimidos e explorados – por senhores, burgos, governos, advogados e bancos.
A sociedade camponesa tradicional é grande produtora de bandidos sociais.
Território do Banditismo social
O bandido social não oferece riscos para o seu próprio território. Quem invade é considerado inimigo. Especificamente ao território, os bandidos sociais ocupam: Áreas remotas e inacessíveis; montanhas e planícies; áreas pantanosas, florestas e rotas comerciais e locomoção dos viajantes.
Segundo Hobsbawm, propõe três formas principais:
Ladrão Nobre – Robin Hood
Haiduks – guerrilheiros e resistentes
Vingadores – semeiam terror. Ex: Lampião
Fim do banditismo social ?
A transição de uma economia pré-capitalista para uma economia capitalista, a transformação social poderá destruir completamente o tipo de sociedade agrária que dá origem aos bandidos, o tipo de campesinato que os sustenta.
Programa do Banditismo Social
Defesa ou restauração da ordem das tradicionais “como devem ser”. Corrigem os erros, desagravam as injustiças, aplicação de critérios de relações justas e equitativas entre os homens , entre ricos e pobres , os fartos e fracos.
Bandidos sociais são reformadores , mas podem se tornar revolucionários em duas situações:
1. Possibilidade de se tornar símbolo da resistência por parte de toda a ordem tradicional contra as forças que a desagregam ou a destroem;
2. Inerente à sociedade camponesa – o sonho com um mundo utópico.

Indicado para o 3°ano do Ensino Médio do IDB

terça-feira, 23 de março de 2010

CULTURA E SOCIEDADE

Cultura e Sociedade
1° ano do ensino médio do IDB

Cultura Brasileira

Miscigenação
Resultado da intensa mestiçagem entre índios, africanos, portugueses e imigrantes (franceses, holandeses, turcos, libaneses, alemães, italianos etc. - Sec.XIX)
Cultura que resulta da mistura não só de três etnias, mas de três culturas diferentes. Contudo, um traço comum os une: privilegiar o presente e não pensar no futuro do longo prazo.
Ex: Para os índios “a sobrevivência estava garantida e que a natureza forneceria tudo o que fosse necessário ao longo do ano inteiro”;
Para o africano - “mirar o futuro, em geral, só o fazia deparar com a triste perspectiva de consumir a vida num trabalho brutal, sem família, sem vida própria;
Para o português, a febre do ouro era uma aventura. Portugal chegou baixar uma lei restringindo a emigração para o Brasil para impedir o desvaziamento de Lisboa. Crença: “Não existe pecado do lado debaixo do equador.”

Leitura de texto complementar
Herança cultural do sobrenome – Ex: Cavalcante
Dado biológico: sangue indígena e sangue negro (mais da metade) – Projeto de Embranquecimento – Marques de Pombal;
Dado antropológico: A adaptação e a assimilação dos saberes coletivos indígenas e negros nos ajudavam a sobreviver no universo-padrão dos europeus (portugueses)
Para Gilberto Freyre a miscigenação é resultado da mistura sexual dos portugueses com as índias e assim sucessivamente. Viver no Brasil não era tão fácil quanto se parecia (olhar quadro da pág. 13)
Ler o diálogo com os alunos
Falar do Gilberto Freyre – importância dele para a sociologia brasileira e leitura de textos complementares

domingo, 7 de março de 2010

Pobreza e Exclusão – Aula II

Tipos:


  •  Pobreza clássica: carência de bens materiais e de recursos à sobrevivência;

  • Pobreza psicológica: sentimento de autodesvalorização das populações pobres em relação às ricas;

  • Pobreza social: impossibilidade da população pobre ter acesso aos mecanismos de êxito social, prestígio e relações sociais estruturadas e permanentes;

  • Pobreza política: incapacidade de certos grupos sociais terem qualquer participação efetiva na vida pública;

  • Pobreza tecnológica: pessoas que não possuem “alfabetização digital”.

 Teorias pessimistas (contrariando a abundância produtiva):  

  • Thomas Malthus e David Ricardo – Os recursos naturais do planeta se esgotariam e as populções seriam assoladas pela fome;

  •  Karl Marx – Constante e irreversível concentração de propriedade e riqueza;

  •  Alfred Marshall – Degradação dos níveis de vida da humanidade.

 Motivos do incomodismo social e estigmatização da pobreza:
  • Demonstra a ineficiência da administração do Estado;
  • Cresce a quantidade de pessoas excluídas;

  •  Temor que a população se organize e aja politicamente contra o sistema marginalizante;

  •  Sintoma evidente do malogro( fracasso, insucesso) de uma sociedade dita justa e solidária.
Exercito de Reserva

Conceito marxista: A população desempregada ou subempregada que vive na pobreza junto as grandes centros industriais representa uma força de manobra na constante luta entre trabalho e capital. O desemprego não é condição de quem não quer ou não está apto ao trabalho, mas resultado de uma inelasticidade na oferta de emprego.
 Dumping Social
Provocado pela globalização econômica, tem como objetivo tornar os preços mais competitivos no mercado internacional. Para isso, a uma redução drástica dos custos com mão-de-obra pelo emprego da mão-de-obra infantil e do trabalho temporário e informal. “Aumenta a quantidade de produtos e diminui a capacidade de consumo de um número cada vez mais crescente de pessoas”.

   
Exercício (Aplicação de conceitos)
Leia e analise a letra da música Haiti (Caetano Veloso e Gilberto Gil) e relacione com o conteúdo trabalhado na sala-de-aula até o momento.
  
Haiti

 Caetano Veloso/ Música: Gilberto Gil


 Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado/ Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos/ Dando porrada na nuca de malandros pretos/ De ladrões mulatos / E outros quase brancos/ Tratados como pretos/ Só pra mostrar aos outros quase pretos/ (E são quase todos pretos)/ E aos quase brancos pobres como pretos/ Como é que pretos, pobres e mulatos/ E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados/ E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo/ Onde os escravos eram castigados/ E hoje um batuque, um batuque com a pureza de meninos uniformizados/ De escola secundária em dia de parada/ E a grandeza épica de um povo em formação/ Nos atrai, nos deslumbra e estimula/ Não importa nada/ Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico/ Nem o disco de Paul Simon/ Ninguém/ Ninguém é cidadão/ Se você for ver a festa do Pelô/ E se você não for/ Pense no Haiti/ Reze pelo Haiti/ O Haiti é aqui/ O Haiti não é aqui/ E na TV se você vir um deputado em pânico/ Mal dissimulado/ Diante de qualquer, mas qualquer mesmo/ Qualquer qualquer// Plano de educação/Que pareça fácil/ Que pareça fácil e rápido/ E vá representar uma ameaça de democratização do ensino de primeiro grau/ E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital/ E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto/ E nenhum no marginal/ E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual/ Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco brilhante de lixo do Leblon/ E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina/ 111 presos indefesos/ Mas presos são quase todos pretos/ Ou quase pretos/ Ou quase brancos quase pretos de tão pobres/ E pobres são como podres/ E todos sabem como se tratam os pretos/ E quando você for dar uma volta no Caribe/ E quando for trepar sem camisinha/ E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba/ Pense no Haiti/ Reze pelo Haiti/ O Haiti é aqui/ O Haiti não é aqui.


Continuação do resumo do capítulo “Pobreza e Exclusão” do livro Sociologia – introdução à ciẽncia da sociedade (págs. 247 à 259)

Indicado para o 3° ano do Ensino Médio do Instituto Dom Bosco

segunda-feira, 1 de março de 2010

CRÍTICA A NOVA CLASSE MÉDIA

Os apartheids reais e camuflados do Brasil

“(...)
O Brasil nunca superou os apartheids social, político, econômico e racial que herdou do período colonial. Em todos os poros da sociedade brasileira respira-se essa divisão real e camuflada. Nós temos uma educação pública (ensino básico) de péssima qualidade voltada para as famílias de baixa renda, enquanto que os ricos frequentam escolas particulares bem equipadas. O mesmo se reproduz na área da saúde, pública e decadente para os pobres, privada e de boa qualidade para os ricos. E quando há algo de bom na área pública - as universidades federais, por exemplo - é apropriado pelo ricos.
Mas, pior do que os muitos apartheids brasileiros não é a constatação da sua existência. O pior mesmo é a forma acomodada com que a população pobre e mesmo a chamada classe média aceita essas desigualdades. São muito frágeis os brados de protesto, de luta e de resistência, infelizmente. Notícias de corrupção por toda parte, favorecimento a banqueiros e empreiteiros, de agressão aos movimentos sociais, de perseguição a quem se revolte contra essas realidades viram espetáculo midiático que termina na semana seguinte, quando a TV Globo troca o assunto para os Big Brotheres e seus afins. Há uma cultura de aceitação, combinada com o medo, a manipulação, a alienação e os interesses individuais estimulados pelo sistema capitalista - que nos torna cúmplices, gostemos ou não, de toda essa trágica realidade.
Ao mesmo tempo, há um conluio invisível e público entre os setores dominantes do grande empresariado, da mídia como parte deste, do latifúndio, dos agentes dos altos escalões dos poderes constituídos e da força militar que dita as normas ao arrepio de qualquer lei. Um núcleo pequeno de pessoas, numericamente falando, que perpassa os diversos partidos políticos e articula setores orgânicos da intelectualidade vendida, conseguindo com isso manter o controle sobre a economia do país, sobre os meios de comunicação, sobre os espaços que deveriam ser públicos e sobre a força militar, usada quando seus interesses estão ameaçados.
Da parte majoritária da população, que produz as riquezas sociais, as lutas são pulverizadas e ocasionais, movidas ora por pequenos interesses individuais ou de pequenos grupos, embora legítimos, ora por algum ocasional modismo, combinado com a aceitação tácita ou explícita do status vigente. Mas não há uma visão e uma perspectiva clara de combate auto-organizado e sistemático ao núcleo duro do poder. No lugar disso, manifesta-se uma subserviência intelectual e prática de uma massa numericamente gigante em relação ao pequeno núcleo dominante.
Os apartheids do Brasil algum dia podem até desaparcer, não duvido, mas não será pela benevolência dos de cima, mas somente quando a maioria dos de baixo decidir finalmente cobrar a sua parte.”

Euler Conrado
Indicado para o 2° ano do Ensino Médio

CLASSE MÉDIA

“(...)classe que defende o modo de vida das classes mais altas, mas não tem dinheiro para comprar a pouca liberdade que elas têm.”

Vamos inicialmente ver o que dizem os nossos artistas:
 Sebastião Nunes, em seu livro “Decálogo da Classe Média” expressa três leis sobre a classe média:
 
  • 1° LEI – A classe média tem medo da própria sombra e às avessas. Ou seja: A própria sombra tem medo da classe média.
  • 2° LEI – A classe média acende uma vela a Deus e outra ao Diabo.
  • 3° LEI – A classe média tem telhado de vidro, mas joga pedra no telhado do vizinho.
 Max Gonzaga. A sua música descreve a classe média de forma muito humorada.
  
Classe Média
  
Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no “jardins”
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida
  
A vez da classe C: A nova classe média (FGV/Agência DM9DDB)
 
  • Detém maior fatia da renda nacional;
  • Cria novo padrão de consumo;
  • Baseado em novos padrões de consumo e culturais;
  • Característica socioculturais próprias;
  • Migração em massa da classe D e E;
  • Métodos básicos de produção e publicidade estão tendo como foco a nova classe média;
  Indagações:
  •   Será a classe média uma incognita social?
  •  Não seria uma camuflagem da desigualdade social?
  •  É condicente com a realidade social brasileira?
  •  A pesquisa a quem serve?
  •  Seria uma estratégia neoliberal?
 

Indicado para o 2° ano do Ensino Médio

 

CLASSE C DO BRASIL JÁ DETÉM 46% DA RENDA

RIO - Pela primeira vez na história, a classe C do Brasil, cujos lares recebem de R$ 1.115 a R$ 4.807 por mês, passou a representar a maior fatia da renda nacional, revela reportagem de Vivian Oswald e Geralda Doca, publicada na edição do Globo deste domingo. Segundo a Fundação Getulio Vargas, o segmento detém 46% dos rendimentos das pessoas físicas. Já as classes A e B correspondem a 44%. Entre 2003, quando a classe C tinha 37% da renda, e 2008, 26,9 milhões chegaram a este grupo, que soma 91 milhões de brasileiros.
O novo público está mudando o conceito de classe média, padrões de consumo e investimentos das empresas.
Entre 2003 - quando a classe C respondia por 37% da renda nacional (salários, benefícios sociais e previdenciários, juros e aluguel) - e 2008, 26,9 milhões chegaram a este grupo. Essa migração em massa alterou o rumo da divisão historicamente desigual do bolo no Brasil e proporcionou o surgimento de um grupo com características socioculturais próprias.
Se a década de 1990 foi marcada pela estabilidade e a educação, o aumento da renda que marcou os anos 2000 permitiu ao consumidor não só comprar, mas escolher o produto com que mais se identifica. O vice-presidente da agência DM9DDB, Alcir Gomes Leite, garante que isso fez os profissionais reverem seus conceitos. O novo público não se preocupa só com preços:
- Vai atrás das marcas, tem uma identidade própria, que é diferente da classe média tradicional. As marcas já entenderam isso. Não querem mais saber o que fazer para tornar o cliente fiel. Vão atrás do que têm de fazer para se tornarem fiéis a eles.
Também não adianta anunciar um produto para a classe AB achando que o indivíduo da classe C vai querer comprar para "ascender":

Nova classe média

O Brasil, felizmente, está se tornando um país de classe média. E com predominância da chamada classe C: cerca de 91 milhões de brasileiros, com rendimentos mensais entre R$ 1.115 e R$ 4.807, já respondem pela maior fatia (46%) da renda nacional referente à participação das pessoas físicas. Sob esse conceito, a participação das classes A e B na renda nacional recuou para 44%, conforme estudos da Fundação Getúlio Vargas.
Os brasileiros da classe C deixaram de ser classificados como pobres porque a melhoria do nível de renda lhes proporcionou acesso a uma série de comodidades do mundo moderno típicas de classe média. O fato se deve a uma conjugação de fatores positivos. No plano macro, o Brasil passou a ter uma economia com relativa estabilidade monetária, que assegura a manutenção do poder aquisitivo da imensa maioria da população. Na prática, isso se traduziu em aumento de consumo, inclusive porque as famílias ampliaram sua capacidade de endividamento. Essa expansão de demanda viabilizou investimentos que antes estavam calcados apenas na possibilidade de exportações, muitas das quais dependentes de um câmbio desvalorizado para serem competitivas.
Dessa forma, esse crescimento da classe média alargou horizontes de investimentos no Brasil, pois já se pode contar no futuro com um grande mercado interno.
Há, sem dúvida, muitos desafios pela frente. Essa nova classe média só continuará ascendendo se aproveitar as oportunidades que o crescimento econômico proporcionar nos próximos anos, e para tal precisará de boa qualificação profissional. Essa qualificação, por sua vez, está associada a um bom sistema de ensino, ao qual só alcançaremos com esforço de toda a sociedade, e especialmente do setor público, que responde pela maior parte das matrículas.
É por esse caminho que o país precisa seguir. Como tem sido demonstrado na prática, não é pela via do assistencialismo que se construirá essa classe média que vem se tornando a base social do Brasil. O assistencialismo só se justifica como instrumento de caráter transitório, enquanto as mudanças estruturais não atingem os objetivos propostos. O problema é que os governantes se sentem tentados a seguir por esse rumo porque o assistencialismo pode render dividendos políticos de curto prazo. No entanto, não é o que garante a construção de uma sociedade mais equilibrada. O processo de ascensão social por esforço próprio poderia ser facilitado se o Estado mudasse as prioridades de gastos.

Indicado para o 2° ano do Ensino Médio

A NOVA CLASSE MÉDIA NA VISÃO DE SÉRGIO BIANCHI

 Por Camila Souza Ramos [Quarta-Feira, 10 de Fevereiro de 2010 às 19:52hs]

Com “Os Inquilinos (Os incomodados que se mudem)”, Sérgio Bianchi mais uma vez surpreende, mas dessa vez não pela excentricidade e atemporalismo comuns de seus filmes, mas justamente por um roteiro aparentemente tradicional em um formato tradicional. O conteúdo, porém, justifica a forma: uma família de classe média, em um bairro pobre de São Paulo, mas razoavelmente estruturado, e os dramas típicos da nova classe média. E é justamente ao mostrar o retrato do dia-a-dia desses brasileiros que o diretor nos surpreende, mostrando uma lógica que é real, e ao mesmo tempo de difícil entendimento. Bianchi fala do trivial, mas de forma questionadora.
Linear, o filme começa com o retrato de uma favela. O espaço aí não é somente um cenário, mas é o que dá sentido ao incômodo dos protagonistas. A favela, o “lugar de pobre”, é o espaço que representa o medo dessa família classe média que saiu da pobreza. De repente, “os de lá” resolvem vir para “o lado de cá”: três jovens surgem no bairro e tornam-se inquilinos da casa ao lado. Gritaria, festas até à noite... Os vizinhos, acostumados com a rotina trabalho-casa, começam a se incomodar com as novas presenças.
A filmagem foi feita em Brasilândia, bairro da zona noroeste da capital paulista, e o contexto são os dias após os ataques do PCC na cidade. O clima de insegurança está mais do que latente. O novo incomoda, e aumenta o medo. Mas, mais do que tratar do problema social da violência nas periferias, Bianchi trata dos medos humanos e da reação ao diferente, e lima o muro que existe entre as discussões filosóficas e sociais.
O filme também é rico em referências externas. Uma delas é a cena da novela em que uma mulher é violentada. Na televisão, o casal Valter e Iara ainda assistem ao programa do Datena, que mostra a história de uma garota de oito anos morta após ser estuprada por três homens. O crime se relaciona diretamente com a violação da liberdade dos filhos Natália e Diego, que muitas vezes são proibidos de sair por conta do medo dos pais.
Valter é típico pai de família, com um emprego precário, mas está voltando a estudar, tem sua casa própria construída “tijolo por tijolo” com seu pai, um carro ano 1985 e, para completar a família, um cachorro. Valter confiava na segurança de sua casa e de sua família até chegarem os vizinhos. E ao longo da história e movido pelo medo – de ser traído, de perder os filhos, de perder o emprego –, Valter passa por um turbilhão de sentimentos. Sonha em acabar com os vizinhos, mas não tem coragem de comprar a briga. Para aliviar sua consciência e enganar seu medo, tranca as portas, fecha as janelas e solta o cachorro no quintal.
Se os dramas são da classe média, os preconceitos também. Mesmo moradores de um bairro periférico têm medo da favela. Mais do que medo, desprezo. “É tudo um bando de vagabundo”, diz Valter à certa altura. A solução, o muro: “Cada um com seus problemas. É pra isso que serve o muro. Eles ficam do lado de lá, a gente de cá, e cada um na sua”. No fim das contas, o medo só serve de válvula de escape para o preconceito de classe. Mas... que classe?
A história, nada mais do que um retrato comum da realidade de uma grande cidade, questiona a filosofia de vida de uma classe que defende o modo de vida das classes mais altas, mas não tem dinheiro para comprar a pouca liberdade que elas têm. Em Valter, vê-se a história de toda uma classe que é explorada em seu trabalho, mas que despreza e descrimina os mais pobres. O papel de opressor e oprimido são trocados a toda hora, questionando as denominações clássicas de “quem está do lado de cá” e “quem está do lado de lá”.
O filme vem em boa hora, em que a ascensão social da classe média baixa ocorrida nos últimos anos desafia a sociedade com a amplificação de uma classe que nega e criminaliza sua própria condição social.

Indicado para o 2° ano do Ensino Médio