sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Estado de Violência - Titãs


AVALIAÇÃO DE SOCIOLOGIA - 3º BIMESTRE - 3º ANO - PBN


Formas de exercício do poder


Caro aluno, nesta última aula vamos lhe apresentar as principais formas de exercício do poder pelo Estado. Vamos começar pela Monarquia, que é a forma de exercício do poder onde o mandatário é chamado de rei ou monarca e o poder é transmitido ao longo de uma linha sucessória baseada em princípios de hereditariedade e vitaliciedade. Existem dois tipos de monarquia: a monarquia absolutista e a monarquia constitucional ou parlamentarista. Na monarquia absolutista o soberano exerce o poder de forma absoluta, ou seja, ele é quem dá ar ordens acumulando as funções de chefe de Estado e chefe de governo. Na monarquia constitucional ou parlamentarista o soberano não governa diretamente, cabendo a ele a função de chefe de Estado, cujos poderes são apenas protocolares e suas funções de moderador político são determinados pela Constituição, onde tem como função resolver impasses políticos, proteger a Constituição e os súditos de projetos de leis que contradizem as leis vigentes ou não fazia parte dos planos de governos defendidos em campanhas eleitorais. A chefia de governo é exercida por um primeiro ministro escolhido entre os membros do partido que tem maioria de deputados eleitos na Câmara de Deputados. Vamos falar agora da República. A palavra república vem do latim Res publica e quer dizer "coisa pública". É uma forma de governo onde um representante, chamado de presidente, é escolhido através do voto para ser o chefe de Estado, podendo ou não ser também chefe de governo. 

Você deve estar se perguntando como o presidente pode ser uma coisa e não ser outra? A resposta tem a ver com a forma da república: presidencialista ou parlamentarista. Na república presidencialista, como o Brasil, o presidente, escolhido pelo voto para um mandato com duração determinada em lei, acumula as funções de Chefe de Estado e chefe de governo. Nesse sistema, para realizar seu plano de governo, o presidente deve negociar com o Legislativo caso não possua maioria. Na republica parlamentarista o presidente apenas responde à chefia de Estado, estando a chefia de governo atribuída a um representante escolhido de forma indireta pelo Aula 3: Formas de exercício do poder Legislativo, normalmente chamado "premier", "primeiro-ministro" ou ainda "chanceler". 

As formas de poder no Brasil e a privatização do público

Com a independência em 1822 o Brasil adota a monarquia constitucional como forma de poder. Acontecem eleições para o senado e a câmara, mas o imperador Pedro I faz uso do poder moderador para governar de forma quase absoluta.

A república é proclamada em 1889 e com ela o Brasil se torna uma república liberal presidencialista, trazendo muitas transformações, contudo mantendo características que tornam a estrutura do Estado brasileiro como expressão da articulação do novo com o velho. O estado no Brasil se apresenta como o ente que resolve todos os problemas, criando o senso comum de que todos os problemas da sociedade e sua solução as de sua responsabilidade e nada resolvemos sem a sua presença.

Com isso aconteceu no Brasil uma privatização do público. O que é isso? Bem que chega ao poder toma conta do que é público, ou seja, pertence a todos nós, como se fosse sua propriedade. Como consequência, o Estado deixa de ser a instituição que deveria atender a maioria da população e passa a adotar como princípio o favorecimento dos setores privados que têm o poder econômico na sociedade.

Outra forma de privatização do Estado no Brasil é o clientelismo, onde acontece troca de favores políticos por benefícios econômicos. Um exemplo dessa atuação do Estado pode ser visto na ajuda que é prestada a setores da sociedade, como a indústria e o agronegócio, onde capitalistas em dificuldade recorrem ao Estado em busca de apoio e suporte financeiro quando enfrentam qualquer dificuldade, o que vai de encontro a uma premissa o liberalismo que preconiza que o Estado não deve intervir na economia e que o mercado se auto regula, ou ainda na concessão de serviços públicos como canais de televisão e rádio sem a devida transparência a grupos economicamente poderosos ou que mantêm relações com o poder. Um efeito perverso dessa atuação do Estado acontece quando esses mesmos setores que recebem benesses do poder público protestam quando o são feitos investimentos em políticas públicas de saúde, educação, habitação e transporte, argumentando que o Estado não deve comprometer seu orçamento com políticas sociais, notadamente as voltadas para a parcela mais pobre e desassistida da população.


Leia o texto acima e respondam as perguntas:

1 – Qual o papel do presidente numa republica parlamentarista?
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2 – (UEL – 2003) Leia o texto a seguir.

Estado Violência (ouça no site a música na íntegra)

Sinto no meu corpo
A dor que angustia
A lei ao meu redor
A lei que eu não queria
Estado violência
Estado hipocrisia
A lei que não é minha
A lei que eu não queria (...)

 (TITÃS. Estado Violência. In: Cabeça dinossauro. *S.L.+ WEA, 1986, 1 CD (ca. 35’97”). Faixa 5 (3’07”).)

A letra da música “Estado Violência”, dos Titãs, revela a percepção dos autores sobre a relação entre o indivíduo e o poder do Estado. Sobre a canção, é correto afirmar:

a) Mostra um indivíduo satisfeito com a sua situação e que apóia o regime político instituído.

b) Representa um regime democrático em que o indivíduo participa livremente da elaboração das leis.

c) Descreve uma situação em que inexistem conflitos entre o Estado e o indivíduo.

d) Relata os sentimentos de um indivíduo alienado e indiferente à forma como o Estado elabora suas leis.

e) Apresenta um indivíduo para quem o Estado, autoritário e violento, é indiferente a sua vontade.  


3 – Numa monarquia parlamentarista quem exerce a função de chefe de estado e a função de chefe de governo?

a) Governador e Prefeito

b) Monarca e Primeiro ministro

c) Monarca e presidente

d) Presidente e Primeiro ministro


4 – Numa república presidencialista quem exerce a função de chefe de estado e a função de chefe de governo?

a) Governador e Prefeito

b) Presidente

c) Monarca

d) Presidente e Primeiro ministro

5 – O clientelismo é uma forma de apropriação do público pelo privado no Brasil. Assinale a resposta que explica o clientelismo.

a) É uma forma de governar que privilegia as políticas públicas voltadas para os mais pobres.

b) É uma forma de governar que busca separar completamente os interesses públicos dos interesses privados.

c) É uma ação do Estado que ocorre através da troca de favores políticos por benefícios econômicos, privilegiando grupos dominantes economicamente.

d) É uma das características do liberalismo.   




quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Contos da Resistência (parte VIII)


Contos da Resistência (parte VII)


Contos da Resistência (parte VI)


Contos da Resistência (parte V)


Contos da Resistência (parte IV)


Contos da Resistência (parte III)


Contos da Resistência (parte II)


Contos da Resistência (parte I)


terça-feira, 20 de setembro de 2016

O analfabeto político interpretado.


Pesquisa voluntária de Filosofia


Analfabeto político - Bertold Brecht


Texto complementar de Filosofia - Aula 20/09/16

“Ele imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo esforço intelectual”. Reflexões do jornalista Celso Vicenzi em torno de poema de Brecht, no século 21
Celso Vicenzi, no Outras Palavras

Ele ouve e assimila sem questionar, fala e repete o que ouviu, não participa dos acontecimentos políticos, aliás, abomina a política, mas usa as redes sociais com ganas e ânsias de quem veio para justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e discriminatórias, e interpreta os fatos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula. Nas passeatas e na internet, pede liberdade de expressão, mas censura e ataca quem defende bandeiras políticas. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. E que elas – na era da informação instantânea de massa – são muito influenciadas pela manipulação midiática dos fatos.

Não vê a pressão de jornalistas e colunistas na mídia impressa, em emissoras de rádio e tevê – que também estão presentes na internet – a anunciar catástrofes diárias na contramão do que apontam as estatísticas mais confiáveis. Avanços significativos são desprezados e pequenos deslizes são tratados como se fossem enormes escândalos. O objetivo é desestabilizar e impedir que políticas públicas de sucesso possam ameaçar os lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social no país.
Questões iguais ou semelhantes são tratadas de forma distinta pela mídia. Aula prática: prestar atenção como a mídia conduz o noticiário sobre o escabroso caso que veio à tona com as informações da alemã Siemens. Não houve nenhuma indignação dos principais colunistas, nenhum editorial contundente. A principal emissora de TV do país calou-se por duas semanas após matéria de capa da revista IstoÉ denunciando o esquema de superfaturar trens e metrôs em 30%.

      O analfabeto midiático é tão burro que se orgulha e estufa o peito para dizer que viu/ouviu a informação no Jornal Nacional e leu na Veja, por exemplo. Ele não entende como é produzida cada notícia: como se escolhem as pautas e as fontes, sabendo antecipadamente como cada uma delas vai se pronunciar. Não desconfia que, em muitas tevês, revistas e jornais, a notícia já sai quase pronta da redação, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar o que o jornalista, o editor e, principalmente, o “dono da voz” (obrigado, Chico Buarque!) quer como a verdade dos fatos. Para isso as notícias se apoiam, às vezes, em fotos e imagens. Dizem que “uma foto vale mais que mil palavras”. Não é tão simples (Millôr, ironicamente, contra-argumentou: “então diga isto com uma imagem”). Fotos e imagens também são construções, a partir de um determinado olhar. Também as imagens podem ser manipuladas e editadas “ao gosto do freguês”. Há uma infinidade de exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque possuía depósitos de armas químicas que nunca foram encontrados. A irresponsabilidade e a falta de independência da mídia norte-americana ajudaram a convencer a opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos foi deflagrada.

O analfabeto midiático não percebe que o enfoque pode ser uma escolha construída para chegar a conclusões que seriam diferentes se outras fontes fossem contatadas ou os jornalistas narrassem os fatos de outro ponto de vista. O analfabeto midiático imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo de esforço intelectual. Não se apoia na filosofia, na sociologia, na história, na antropologia, nas ciências política e econômica – para não estender demais os campos do conhecimento – para compreender minimamente a complexidade dos fatos. Sua mente não absorve tanta informação e ele prefere acreditar em “especialistas” e veículos de comunicação comprometidos com interesses de poderosos grupos políticos e econômicos. Lê pouquíssimo, geralmente “best-sellers” e livros de autoajuda. Tem certeza de que o que lê, ouve e vê é o suficiente, e corresponde à realidade. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o espoliador das empresas nacionais e multinacionais.”

O analfabeto midiático gosta de criticar os políticos corruptos e não entende que eles são uma extensão do capital, tão necessários para aumentar fortunas e concentrar a renda. Por isso recebem todo o apoio financeiro para serem eleitos. E, depois, contribuem para drenar o dinheiro do Estado para uma parcela da iniciativa privada e para os bolsos de uma elite que se especializou em roubar o dinheiro público. Assim, por vias tortas, só sabe enxergar o político corrupto sem nunca identificar o empresário corruptor, o detentor do grande capital, que aprisiona os governos, com a enorme contribuição da mídia, para adotar políticas que privilegiam os mais ricos e mantenham à margem as populações mais pobres. Em resumo: destroem a democracia.

Para o analfabeto midiático, Brecht teria, ainda, uma última observação a fazer: Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

Atividade de Filosofia - Aula do dia 20/09/16

Atividade de Filosofia


Questão 01: Escreva sobre a diferença de politicagem e política, segundo a aula de hoje.
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Questão 02: Explique com suas palavras a concepção de Aristóteles: o homem é um animal político.
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 Questão 03: (FGV) Leia atentamente os versos de cunho político do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht: 
“Nós vos pedimos com insistência:  Nunca digam — isso é natural! (...)  A fim de que nada passe por ser imutável”  
De acordo com as ideias de Brecht expostas no trecho acima é correto afirmar que: 
a) O ser humano faz parte da natureza e por isso o mundo que constrói é imutável. 
b) Os valores humanos são absolutos, portanto não podem ser modificados. 
c) O homem é superior à natureza e por isso o mundo construído por ele é imutável.
d) Os valores humanos são estáticos, pois são frutos de suas predisposições naturais.
e) O ser humano é criador de valores e por isso estes podem ser modificados.  
 Questão 04: (FGV) Partimos do pressuposto de que filosofar é não aceitar como óbvias e evidentes as coisas sem antes tê-las investigado. Entre os inimigos da filosofia encontram-se políticos a quem interessa que a filosofia seja desprezada. Impedir que os homens se tornem sensatos é uma estratégia da má política. No texto Filosofia no mundo, Carl Jaspers, seu autor, afirma: “massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam de uma inteligência de rebanho”. 
Nesse contexto, inteligência de rebanho é: 
a) a existência de muitas pessoas inteligentes que tomam decisões comuns, sensatas e benéficas para a maioria da sociedade.
b) fruto de um grupo de homens sensatos que consegue se diferenciar da má política através de uma atuação coletiva e organizada.
c) a massa e os funcionários que se organizam para defender seus direitos, fazendo frente à má política.
d) uma maioria de pessoas que se deixa influenciar por um pensamento dominante na sociedade, sem antes criticá-lo.

e) a originalidade de um pensamento que acaba por influenciar muitas pessoas se tornando assim mais forte para efetivar mudanças no mundo.   

Contos de Resistência I


Ditadura Militar (Arquivo Record)


Ditadura Militar Lei 5.536


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Aristóteles - Breve Vida e Obra

Aristóteles - Breve Vida e Obra

Introdução a Filosofia de Aristóteles


Introdução a Filosofia de Aristóteles

Questões do Enem de Sociologia

Questões do Enem de Sociologia

Material de apoio: A política de Aristóteles

LEGIO VICTRIX: O Conceito de Política em Aristóteles: Por Lionês Santos Aristóteles começou a escrever suas teorias políticas quando foi preceptor de Alexandre, “O Grande”. Para Aristóteles a ...

Questões de Enem - Filosofia 3º ano - Tema: Política


CIDADANIA E DEMOCRACIA NA ANTIGUIDADE

POLÍTICA NA ANTIGUIDADE

A Antiguidade surge como um período histórico de fundamental importância, destacadamente por suas criações e legados, muitos dos quais essenciais ao conhecimento produzido pelas sociedades humanas.

Espaço de elaboração dos primeiros sistemas de escrita, do teatro, dos jogos olímpicos e de boa parte das áreas do conhecimento, a Antiguidade assistiu igualmente ao surgimento das primeiras cidades e, com elas, do aparecimento do Estado enquanto instituição capaz de regulamentar o convívio entre os homens. A partir de então, o crescente nível de complexidade das civilizações comportou também o fortalecimento das relações políticas.
Política
Em linhas gerais, os sistemas de governo da Antiguidade baseavam-se em estruturas teocráticas, por meio das quais uma elite política abalizava seu poder através de argumentos de natureza religiosa. No Egito Antigo, por exemplo, a figura do Faraó era percebida como um enviado dos deuses, quando não a própria reencarnação divina, o que certamente lhe valia como poderosa justificativa à legitimação do seu poder. Nos povos mesopotâmicos, assim como em grande parte das demais civilizações do período, eram frequentes as interferências do sacerdote em assuntos políticos.
Neste cenário, portanto, a política era hierarquicamente organizada, sendo a efetiva participação nos debates públicos destinada a um seleto grupo de indivíduos. Estes, então, constituíam poderosas aristocracias cujas prerrogativas estavam baseadas na tradição familiar ou, como dissemos, em alegações religiosas.
No entanto, se por um lado é irrefutável o caráter excludente da política na Antiguidade, por outro manifestam-se neste momento experiências políticas que proporcionaram a um número maior de governados a possibilidade de expressarem suas opiniões. Podemos tomar como exemplo, por sua relevância histórica, a Democracia Ateniense.

EXPERIÊNCIA ATENIENSE

O que conhecemos por Grécia Antiga refere-se à união de diversas regiões politicamente independentes (as chamadas cidades-Estados gregas), mas que possuíam aspectos que as unificavam culturalmente: o fato de possuírem o mesmo idioma, costumes semelhantes e aproximações históricas são alguns destes elementos. 

Neste mundo grego, as duas cidades-Estados de maior destaque, Atenas e Esparta, possuíam sistemas de governo frontalmente diferentes. Enquanto esta última era administrada por uma oligarquia militarizada, a cidade de Atenas esteve alicerçada em bases mais democráticas, cabendo a todos os seus cidadãos o direito de debater os destinos da coletividade. O próprio sistema educacional ateniense, compromissado com uma formação baseada na reflexão e debate acerca da realidade, salienta este traço da política de Atenas.
Entretanto, não podemos esquecer que a noção de cidadania ateniense era extremamente limitada se comparada aos dias de hoje. As mulheres, por exemplo, eram normalmente excluídas dos debates políticos, assim como escravos, estrangeiros e indivíduos não-abastados. De tal modo, o cidadão ateniense era necessariamente do sexo masculino, livre e detentor de propriedades, o que afastava a maioria da população da política estatal e detinha nas mãos de poucos o direito à educação.
CONSOLIDAÇÃO DEMOCRÁTICA

Na verdade, debates acerca do desenvolvimento de organizações políticas solidamente democráticas, onde governantes e governados tivessem uma relação baseada em pactos mais igualitários, só puderam ser assistidos mais vastamente com o advento da modernidade. Notadamente a partir do século XVIII – o Século do Iluminismo – boa parte do mundo ocidental passa a refletir sobre a necessidade de se estabelecer critérios de cidadania mais amplos, fundamentados na igualdade jurídica entre os indivíduos. Além disso, baseados nas ideias de pensadores como Voltaire e Rousseau, diversos grupos sociais salientam a necessidade de separação entre assuntos políticos e religiosos, advogando a constituição de governos laicos.

Ao longo dos séculos seguintes diversos povos passaram a adotar, com maior ou menor impacto, noções mais amplas de cidadania, muito embora ainda hoje possamos notar a existência de ditaduras teocráticas, caudilhismos e tiranias de outras naturezas. A própria constituição da cidadania brasileira, por exemplo, tem sido elaborada através de um processo de avanços e recuos: se por um lado o século XX nos ofertou o direito de voto às mulheres e analfabetos, por outro a existência de práticas coronelistas como a “compra de votos” emperram o desenvolvimento de nossa cidadania em sua plenitude.

Cidadania e democracia

CONCEITO

Pensar nos conceitos de cidadania e democracia significa remeter-se a um contexto histórico-cultural específico: a Antiguidade Grega. A história da filosofia antiga se confunde com o estabelecimento do vínculo entre cidadania e democracia. Como se sabe, é consenso entre historiadores que a filosofia surgiu ao redor do século VI a.C, e segundo Aristóteles, com Tales de Mileto, considerado por ele como o primeiro filósofo. A partir dali se iniciou a passagem de um tipo de pensamento e explicação de mundo baseados nos mitos para o tipo filosófico científico, estruturado em pressupostos racionais.
Na Grécia aquele momento fértil para o pensamento coincidiu, por outro lado, com um período de decadência da civilização micênico-cretense, que era estruturada numa monarquia divina, sendo a classe sacerdotal dotada de grande poder e influência. A situação política a partir de 900 a.C, com a invasão da Grécia pelas tribos dóricas, foi marcada pelo surgimento das cidades-Estado, modelo que previa uma efetiva participação política dos cidadãos. O aparecimento da polis foi preponderante para as primeiras investigações filosóficas sobre o mundo natural, característica dos filósofos pré-socráticos, que buscavam a arché em elementos da natureza. A essa altura, com a crescente secularização da sociedade grega, os mitos deixavam de ser o eixo central das explicações sobre o mundo.

SÓCRATES E A DIMENSÃO ÉTICA

O pensamento de Sócrates (470-399 a.C) é visto como um verdadeiro divisor de águas na relação entre filosofia e política. Com ele, a natureza deixou de ser a temática principal e o que passou a importar mais foi a dimensão ética, ou seja, a relação entre os homens – os cidadãos – da polis, organizados sob a forma da democracia, já que algumas reformas políticas haviam destituído os privilégios do modelo oligárquico até então predominante.
A democracia na Grécia Antiga significou a chance dos homens se entenderem no ambiente público e resolverem suas diferenças em prol de interesses coletivos. Isto se dava em reuniões e assembleias (na ágora, praça pública grega) nas quais as decisões eram tomadas após uma serie de debates e questionamentos. Ao invés da força física, da violência e dos privilégios, a palavra passou a representar um instrumento poderoso para os cidadãos, que deveriam entre si argumentar, questionar, refutar, esclarecer, dialogar, persuadir, etc. para, assim, chegar a um consenso sobre o que era melhor para a sociedade.

Nesses diálogos públicos os cidadãos tinham democraticamente os mesmos direitos de impor a palavra, embora se fizessem nítidas as distinções entre os grupos sociais: mulheres, escravos e estrangeiros (metecos) eram vetados das discussões públicas, abertas apenas para homens adultos que geralmente não representavam a maioria da sociedade. De todo modo a linguagem deveria ser a mais racional possível e os cidadãos que apresentassem os argumentos mais claros e bem construídos podiam determinar os rumos políticos locais.

Questão 1
Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas".

VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.

O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania:

A) Possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar.

B) Era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade.

C) Estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica.

D) Tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais.

E) Vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver os problemas da cidade.


Questão 2
Tenho 44 anos e presenciei uma transformação impressionante na condição de homens e mulheres gays nos Estados Unidos. Quando nasci, relações homossexuais eram ilegais em todos os Estados Unidos, menos Illinois. Gays e lésbicas não podiam trabalhar no governo federal. Não havia nenhum político abertamente gay. Alguns homossexuais não assumidos ocupavam posições de poder, mas a tendência era eles tormarem as coisas ainda piores para seus semelhantes.
ROSS, A. Na máquina do tempo. Época, ed. 766, 28 jan. 2013.
A dimensão política da transformação sugerida no texto teve como condição necessária a

A) ampliação da noção de cidadania.
B) reformulação de concepções religiosas.
C) manutenção de ideologias conservadoras.
D) implantação de cotas nas listas partidárias.
E) alteração da composição étnica da população.


Questão 3
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato dependem de decisões políticas.”

Bertold Brecht

A partir da leitura do trecho acima, marque a opção que reflete o estado desse homem não politizado.

a) Desolação e descrença.
b) Alienação e indiferença.
c) Insatisfação e Acomodação.
d) Preocupação e ingenuidade.
e) Desamparo e incompreensão

Questão 4
A dimensão política do ser humano se constrói, constitui-se e alarga-se num longo processo de aprendizado, desde os pequenos espaços sociais até os mais complexos contextos. Sabendo-se que esse caminhar possibilita o grande desafio para o efetivo exercício da cidadania. Assinale a alternativa que ratifica esta assertiva.

a) Compreender que a cidadania se conquista politicamente da forma plena, mesmo numa sociedade dividida em classes.
b) Saber que existe uma política democrática que viabiliza mudanças econômicas, políticas, educacionais e acreditar nelas.
c) Reconhecer o aparato estatal e a tradição política conservadora do país e, ainda assim ter expectativa de que aconteçam mudanças qualitativas na sociedade.
d) Ter conhecimento legal e ser cônscio de que na sociedade democrática é assegurado o direito de todos à liberdade de pensamento, à manifestação de opinião, à associação, ao credo, de modo que a luta por esses direitos seja uma conseqüência da consciência de sua garantia.
e) Ser indiferente às questões políticas que perpassam e estão inseridas em todos os âmbitos de desenvolvimento da sociedade, admitindo que só a política partidária influencia as ações politizadas.

QUESTÃO 5
Um cidadão é um indivíduo que pode participar no judiciário e na autoridade, isto é, nos cargos públicos e na administração política e legal. (ARISTÓTELES. Política)

O termo “cidadania” é polissêmico. Pode-se depreender que, no texto de Aristóteles, a palavra “cidadão” significa “o indivíduo que…”

A) Contribui para melhorar as condições sociais dos mais desfavorecidos.
B) Não se omite nas escolhas importantes da comunidade.
C) Age em prol de um futuro melhor para toda a humanidade.
D) Pode legalmente influenciar o futuro da comunidade.
E) É reconhecido como exemplo para toda a sociedade.

QUESTÃO 6
A constituição dos dias atuais é a que se segue. Os homens que são filhos de pai e mãe cidadãos têm direito à cidadania completa e são inscritos na lista de seus concidadãos nos demos quando completam dezoito anos de idade. Depois de registrados, os membros do demo votam, sob juramento, primeiro: quais deles consideram ter, de fato, atingido a idade legal e os que não a atingiram retornam ao status de criança; segundo: quais os homens que são livres e nascidos como a lei prescreve. Se decidem que um homem não é livre, ele pode apelar para o tribunal, enquanto os concidadãos do demo elegem cinco de seu grupo como acusadores; se for decidido que o julgado não tem direito de ser registrado como cidadão, a cidade o vende como escravo, mas se ele vencer a causa os representantes do demo são obrigados a registrá-lo. (ARISTÓTELES. A Constituição de Atenas)

O texto de Aristóteles representa a definição do cidadão em Atenas no século IV a.C. Uma diferença entre o conceito antigo e o moderno de cidadania refere-se a:

A) A profissão dos indivíduos.
B) A ideologia dos indivíduos.
C) As posses dos indivíduos.
D) O gênero dos indivíduos.
E ) E raça dos indivíduos.


QUESTÃO 7
Um aspecto importante derivado da natureza histórica da cidadania é que esta se desenvolveu dentro do fenômeno, também histórico, a que se denomina Estado-nação. Nessa perspectiva, a construção da cidadania na modernidade tem a ver com a relação das pessoas com o Estado e com a nação.
(CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho)

Considerando-se a reflexão acima, um exemplo relacionado a essa perspectiva de construção da cidadania é encontrado

A) Em D. Pedro I, que concedeu amplos direitos sociais aos trabalhadores, posteriormente ampliados por Getúlio Vargas com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
B) Na independência, que abriu caminho para a democracia e a liberdade, ampliando o direito político de votar aos cidadãos brasileiros, inclusive às mulheres.
C) No fato de os direitos civis terem sido prejudicados pela Constituição de 1988, que desprezou os grandes avanços que, nessa área, havia estabelecido a Constituição anterior.
D) No Código de Defesa do Consumidor, ao pretender reforçar uma tendência que se anunciava na área dos direitos civis desde a primeira constituição republicana.
E ) Na Constituição de 1988, que, pela primeira vez na história do país, definiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível, alargando o alcance dos direitos civis.

QUESTÃO 8

A política implica o envolvimento da comunidade cívica na definição do interesse público. Vale dizer, portanto, que o cenário original da política, no lugar de uma relação vertical e intransponível entre soberanos e súditos na qual a força e a capacidade de impor o medo exercem papel fundamental, sustenta-se em um experimento horizontal. Igualdade política, acesso pleno ao uso da palavra e ausência de medo constituem as suas cláusulas pétreas. (LESSA, R. Sobre a invenção da política)

A organização da sociedade no espaço é um processo histórico-geográfico, articulado ao desenvolvimento das técnicas, à utilização dos recursos naturais e à produção de objetos industrializamos. Política é, portanto, uma organização dinâmica e complexa, possível apenas pela existência de determinados conjuntos de leis e regras, que regulam a vida em sociedade. Nesse contexto, a participação coletiva é

A) Necessária para que prevaleça a autonomia social.
B) Imprescindível para uma sociedade livre de conflitos.
C) Decisiva para tornar a cidade atraente para os investimentos.
D) Indispensável para a construção de uma imagem de cidade ideal.
E ) Indissociável dos avanços técnicos que proporcionam aumento na oferta de empregos.

QUESTÃO 9

“Nossa discussão será adequada se tiver tanta clareza quanto comporta o assunto, pois não se deve exigir a precisão em todos os raciocínios por igual, assim como não se deve buscá-la nos produtos de todas as artes mecânicas. Ora, as ações belas e justas, que a ciência política investiga, admitem grande variedade e flutuações de opinião, de forma que se pode considerá-las como existindo por convenção apenas, e não por natureza. E em torno dos bens há uma flutuação semelhante, pelo fato de serem prejudiciais a muitos: houve, por exemplo, quem perecesse devido à sua riqueza, e outros por causa da sua coragem. Ao tratar, pois, de tais assuntos, e partindo de tais premissas, devemos contentar-nos em indicar a verdade aproximadamente e em linhas gerais; e ao falar de coisas que são verdadeiras apenas em sua maior parte e com base em premissas da mesma espécie, só poderemos tirar conclusões da mesma natureza. E é dentro do mesmo espírito que cada proposição deverá ser recebida, pois é próprio do homem culto buscar a precisão, em cada gênero de coisas, apenas na medida em que o admita a natureza do assunto.” (Aristóteles. Ética a Nicômaco)

No texto acima, o filósofo Aristóteles explica que

A) O método da ciência política é dialético, isto é, parte de opiniões comuns aceitas pela maioria ou pelos sábios.
B) Não há resposta objetiva em questões morais.
C) A finalidade da ética e da ciência política é a ação, não a verdade.
D) É necessário buscar a verdade absoluta ao resolver problemas morais.
E ) E a teoria política possui um método tão exato quanto o da matemática.

Material de apoio - Filosofia 3º ano

Filosofia | O animal Político - Para Aristóteles, o homem é um animal político. Entenda por que esta máxima do fiosofo de Estagira é uma das bases da Filosofia Política