quarta-feira, 29 de julho de 2015

ESCOLA DIFERENTE: UMA UTOPIA.

Era o segundo bimestre do Colégio Estadual Pedro Braile Neto em Resende/RJ e no processo de planejamento das aulas surgiram algumas indagações importantes para uma reflexão sociológica sobre a educação. Qual é a escola que queremos? Será que os nossos alunos têm uma opinião formada sobre o assunto? Será que é importante darmos voz ativa para os alunos falarem sobre a escola dentro de uma perspectiva política interna e externa?
Imbuído de uma razão transformadora, planejei um bimestre diferente de todos os outros onde essas perguntas pudessem ser respondidas, a princípio sem muito rigor científico, visto que os nossos alunos do ensino médio atual ainda não têm, devido a sua formação, subsídios suficientes para argumentar com autores que são muito importantes para a construção de uma argumentação mais sóbria.  A parte teórica seria trabalhada após a experiência prática que seria proposta.
A indicação do currículo mínimo proposto pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro para o 2º bimestre era trabalharmos o poder na política e suas expressões na sociedade moderna. Então, por que não desenvolver uma discussão sobre a educação dentro da perspectiva política do poder dando oportunidade para os alunos responderem as indagações citadas acima?
Lendo o texto sugerido pelo professor Rogério Gonçalves de Castro, da disciplina Sociologia da Educação da pós-graduação “Sociologia da Educação e Cultura” da AVM/Faculdade Integrada, “A sociedade, o indivíduo e a educação que temos e queremos” de Rodiney Marcelo Braga dos Santos, visualizei que a minha experiência em sala de aula teve forte relação com a abordagem provocada. 
Inicialmente foi proposto um manifesto que revelasse as ponderações e reflexões dos alunos do 3º ano do Ensino Médio a respeito da educação. A bibliografia sugerida para o debate foi o livro adotado para o ano letivo 2015 (Sociologia – Ensino Médio de Silvia Maria de Araújo, Maria Aparecida Bridi e Benilde Lenzi Motim) especificamente o capítulo 9 que tinha como objetivo a educação, escola e transformação social. Cada grupo organizado na turma produziu um manifesto sobre a educação do ponto de vista interno e externo que pudesse expressar o debate travado pelas questões sugeridas. Como segundo etapa desenvolveram frases de impacto que pudessem dar visibilidade as suas idéias através de cartazes expostos em painéis da escola. Assim puderam estabelecer também uma relação de integração e interação com outros alunos da escola que em pequenos papéis deixavam suas opiniões em uma caixinha.
A metodologia pensada tinha como principal objetivo vivenciar a discussão para depois reportarmos a teoria proposta no livro. Antes disso, filmes e vídeos de escolas “proibidas”, ou seja, escolas que estão propondo metodologias de ensino-aprendizagem diferente foram exibidas com intuito de formalizarmos uma crítica sobre o assunto. Essas escolas em “questão” têm um forte respaldo na sociedade em que vivemos, mas que ainda são caracterizadas como uma utopia. Vídeos da Escola da Ponte, do Projeto Âncora, documentário sobre “Maio de 68” e filme como “Escritores da Liberdade” foram ótimos exemplos de caminhos que contrariam a escola que temos que ainda reflete uma metodologia educacional da idade média em conflito com a metodologia educacional da idade moderna e industrializada.
Em nosso aporte teórico observarmos que Emile Durkheim foi o primeiro sociólogo a pensar a educação como um processo socializador que expressa a sua teoria do fato social, objeto de estudo da sociologia. Importante para o entendimento inicial da relação educação x sociedade. Adiante vimos que o filósofo Edgar Morin nos identificou um problema crucial no processo educacional: o que realmente significa conhecimento? Compreendemos que a preocupação da escola promover inclusão social e justiça, passa por uma compreensão mais ampla de conhecimento, um processo de imprinting cultural “no sentido de injuções da família, da escola, do ambiente em que vivemos recebidas e processadas por nós.” (226). Neste ínterim não poderíamos deixar de citar as provocações do sociólogo francês Pierre Bourdieu que nos chama a atenção que a educação no modelo atual valoriza os princípios e os padrões culturais dominantes que reforça as desigualdades sociais e enfatiza a cultura legítima.
            Após o debate teórico, os alunos produziram questões de múltipla escolha que expressassem suas indagações e ponderações a respeito do capítulo estudado no qual foram concretizados através de um simulado aplicado nas turmas envolvidas. A conclusão desse trabalho não deve um ponto final. Percebemos que a educação que temos e que recebemos ainda esta atrelada a um modelo tecnicista, industrial e convencional. O potencial transformador da escola ainda não são visualizados em sua grande maioria, contudo pudemos experienciar um pouco de ser a própria escola, onde a voz ativa dos estudantes é elemento constructo importante para uma sociedade mais justa e solidária.




Rudolf Rotchild Costa Cavalcante, professor de Sociologia da SEEDUC-RJ.