sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ANÁLISE DA MÚSICA "IDEOLOGIA" DE CAZUZA

ANÁLISE:


Com música de Roberto Frejat e letra de Cazuza, Ideologia é a faixa título do terceiro álbum solo de Cazuza. O álbum foi gravado logo depois de Cazuza voltar ao Brasil, em dezembro de 87. O músico passou três meses nos Estados Unidos fazendo tratamento para a AIDS. Sobre o álbum, Cazuza disse: "Quando fiz "Ideologia", nem sabia o que isso queria dizer, fui ver no dicionário. Lá estava escrito que indica correntes de pensamentos iguais e tal… A música, por sua vez, é muito pessimista, porque, na verdade, é a história da minha geração, a de 30 anos, que viveu o vazio todo. É meio amarga porque a gente achava que ia mudar o mundo mesmo e o Brasil está igual; bateu uma enorme frustração Nos conceitos sobre sexo, comportamento, virou alguma coisa, mas deixamos muito pelo caminho. A gente batalhou tanto e agora? Onde chegamos? Nossa geração ficou em que pé?" Analisando letra: Ideologia (Cazuza) Meu partido é um coração partido E as ilusões Estão todas perdidas Nesses versos, o poeta faz uma alusão entre partido politico e coração partido, mostrando o quão estava infeliz e insatisfeito com a atual politica do país, e o quanto se iludiu por acreditar na mudança da mesma. Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito Ah! eu nem acredito... Esse trecho me da a ideia de traição, talvez o poeta aqui, queria demostrar, que se sentia traído, enganado, por ver seus sonhos e tudo aquilo em que acreditou ou acreditava ir por água a baixo. Na quela época, havia um sonho pós ditadura, uma crença em dias melhores e que a democracia resolveria todos os problemas do país. Que aquele garoto Que ia mudar o mundo Mudar o mundo Frequenta agora As festas do "Grand Monde"... Aqui ele deixa mais claro ainda a ideia de que tudo aquilo em que creditou e lutou, tinha se perdido. Cazuza disparava contra a burguesia da época, mencionando nessa frase, de modo obscuro, o fato de que ele nascera no berço da sociedade cultural endinheirada carioca, se rebelou contra ela por uns tempos e depois, voltou a circular pelas festas da nata da elite carioca, há também fortes indícios de que ele esteja mencionando uma boate de São Paulo, chamada Grand Monde, do mesmo dono do Val Improviso, de “Só as mães são felizes”, ambas, boates de Transexuais e Gays, frequentadas por milionários, políticos e artistas da década de 80 Cazuza frequentava o submundo da Boca do Luxo em Sampa, e ao frequentar esse lugar ele reafirma que foi derrotado pelo poder e passa comemorar com eles a desigualdade social. Meus heróis Morreram de overdose Meus inimigos Estão no poder Aqui, claramente o poeta referencia e reverencia Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix, entre muitos outros que na década de 70 perderam suas vidas por overdose de drogas e álcool, fazendo uso da licença poética, Cazuza associa os trechos em síntese, narrando o momento (na época), como quem se queixava de que: seus grandes artistas e referências se perderam para as drogas enquanto que aqueles que reprovava estavam no poder, e havia muito pouco que pudesse ser feito. Ideologia! Eu quero uma pra viver Ideologia! Eu quero uma pra viver... IDEOLOGIA: Conjunto de valores que funde ideais políticos, estilo escolhido de vida, valores morais e conceitos pessoais, que norteiam a escolha de qual lado se vai estar, especialmente em sociedades profundamente desiguais, como era e ainda é a sociedade brasileira. Mencionar “eu quero UMA pra viver” indica que Cazuza se via confuso e desiludido com o andamento do país e que tinha mudado tantas vezes de “ideia”, que, sentia-se compelido a buscar um lugar que pudesse identificar como seu naquele panorama. Coisa difícil de ser conseguida com uma sequencia desastrosa de governos de: Itamar, Sarney e Collor, planos econômicos absurdos, confiscos de poupança e especialmente por uma sociedade apática que não reagia diante de desigualdades inacreditáveis e resquícios de ditadura; para piorar, a energia artística do Rock na época se esvaia, tornando a visão geral da coisa toda, no mínimo tenebrosa, restando a ele se confortar com a verdade de que ser artista e genial, não muda em quase nada certos mecanismos. O meu prazer Agora é risco de vida Ao vivo Cazuza cantava essa frase com a seguinte letra: “o meu tesão agora é risco de vida”, óbvio que ele mencionava o fato de que sua roleta-russa sexual, o tinha levado a uma condição em que ele poderia ser reinfectado ou infectar parceiros sexuais (lembrando que as pessoas portadoras de HIV podem se infectar por outros genótipos do vírus, complicando muito o quadro e o tratamento) Com esse verso, pela primeira vez, ele assume que a doença mexeu com sua vida e que o sexo, que ele sempre declarou ser o maior prazer do mundo, havia se tornado um risco. Meu sex and drugs Não tem nenhum rock 'n' roll Uma frase magistral de Cazuza que define seu estilo de vida pela máxima que vivera até então, a do Sexo, Drogas e Rock’n’Roll, muito usada na década de 70. Aqui, Cazuza desabafa confessando que seu estilo de vida, regado a Sex and Drugs (sexo e drogas), já não tinha mas graça, já não tinha a poesia do Rock’n’Roll, mas tinha se tornado um pesadelo no qual ele estava vivendo. Com a saúde já debilitada, fazer sexo desprotegido e usar drogas descontroladamente, não tinha nada de poético ou de estiloso, mas sim, era uma estupidez. (estupidez que ele não conseguia evitar, Cazuza bebia muito, mesmo tomando os coqueteis contra a AIDS), mas , reconhecia a estupidez como um fato presente. Eu vou pagar A conta do analista Pra nunca mais Ter que saber Quem eu sou Ah! saber quem eu sou.. Aqui ele deixa claro a indignação e revolta, diante da sua condição de doente, diante de uma luta que ele sabia que não iria ganhar. Ele muda completamente seu discurso, e deixa transparecer um desejo obscuro, em que pensa em abandonar tudo, análise, médico, remédios e (transfusões de sangue de cavalo) “SIM, CAZUZA FEZ INCLUSIVE ISSO NA TENTATIVA DE VIVER UM POUCO MAIS E MELHOR”… ele ameaça jogar tudo pro alto e esquecer sua força e gana pela vida, coisa que em momento algum ele fez, mas vale a licença poética de se permitir mandar tudo pro inferno e sumir, aqui Cazuza fala nisso, em metáfora. Pois aquele garoto Que ia mudar o mundo Mudar o mundo Agora assiste a tudo Em cima do muro Em cima do muro... Demonstração clara de impotência e frustração, sem tomar partido e sem se posicionar (coisa que Cazuza nunca fez), logo a seguir, ele fuzilou a burguesia, os políticos, a sociedade e chegou a escrever “eu sou burguês mas eu sou artista”, “o bom burguês é bom operário”, portanto, aqui Cazuza faz uma piada consigo mesmo, como quem diz: “estou em cima do muro, pois não tenho o que fazer nesse momento, mas me aguardem”.

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