segunda-feira, 1 de março de 2010

CRÍTICA A NOVA CLASSE MÉDIA

Os apartheids reais e camuflados do Brasil

“(...)
O Brasil nunca superou os apartheids social, político, econômico e racial que herdou do período colonial. Em todos os poros da sociedade brasileira respira-se essa divisão real e camuflada. Nós temos uma educação pública (ensino básico) de péssima qualidade voltada para as famílias de baixa renda, enquanto que os ricos frequentam escolas particulares bem equipadas. O mesmo se reproduz na área da saúde, pública e decadente para os pobres, privada e de boa qualidade para os ricos. E quando há algo de bom na área pública - as universidades federais, por exemplo - é apropriado pelo ricos.
Mas, pior do que os muitos apartheids brasileiros não é a constatação da sua existência. O pior mesmo é a forma acomodada com que a população pobre e mesmo a chamada classe média aceita essas desigualdades. São muito frágeis os brados de protesto, de luta e de resistência, infelizmente. Notícias de corrupção por toda parte, favorecimento a banqueiros e empreiteiros, de agressão aos movimentos sociais, de perseguição a quem se revolte contra essas realidades viram espetáculo midiático que termina na semana seguinte, quando a TV Globo troca o assunto para os Big Brotheres e seus afins. Há uma cultura de aceitação, combinada com o medo, a manipulação, a alienação e os interesses individuais estimulados pelo sistema capitalista - que nos torna cúmplices, gostemos ou não, de toda essa trágica realidade.
Ao mesmo tempo, há um conluio invisível e público entre os setores dominantes do grande empresariado, da mídia como parte deste, do latifúndio, dos agentes dos altos escalões dos poderes constituídos e da força militar que dita as normas ao arrepio de qualquer lei. Um núcleo pequeno de pessoas, numericamente falando, que perpassa os diversos partidos políticos e articula setores orgânicos da intelectualidade vendida, conseguindo com isso manter o controle sobre a economia do país, sobre os meios de comunicação, sobre os espaços que deveriam ser públicos e sobre a força militar, usada quando seus interesses estão ameaçados.
Da parte majoritária da população, que produz as riquezas sociais, as lutas são pulverizadas e ocasionais, movidas ora por pequenos interesses individuais ou de pequenos grupos, embora legítimos, ora por algum ocasional modismo, combinado com a aceitação tácita ou explícita do status vigente. Mas não há uma visão e uma perspectiva clara de combate auto-organizado e sistemático ao núcleo duro do poder. No lugar disso, manifesta-se uma subserviência intelectual e prática de uma massa numericamente gigante em relação ao pequeno núcleo dominante.
Os apartheids do Brasil algum dia podem até desaparcer, não duvido, mas não será pela benevolência dos de cima, mas somente quando a maioria dos de baixo decidir finalmente cobrar a sua parte.”

Euler Conrado
Indicado para o 2° ano do Ensino Médio

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