quinta-feira, 30 de julho de 2015
quarta-feira, 29 de julho de 2015
ESCOLA DIFERENTE: UMA UTOPIA.
Era o segundo bimestre do Colégio
Estadual Pedro Braile Neto em Resende/RJ e no processo de planejamento das
aulas surgiram algumas indagações importantes para uma reflexão sociológica
sobre a educação. Qual é a escola que queremos? Será que os nossos alunos têm
uma opinião formada sobre o assunto? Será que é importante darmos voz ativa
para os alunos falarem sobre a escola dentro de uma perspectiva política
interna e externa?
Imbuído de uma razão transformadora,
planejei um bimestre diferente de todos os outros onde essas perguntas pudessem
ser respondidas, a princípio sem muito rigor científico, visto que os nossos
alunos do ensino médio atual ainda não têm, devido a sua formação, subsídios
suficientes para argumentar com autores que são muito importantes para a
construção de uma argumentação mais sóbria. A parte teórica seria trabalhada após a
experiência prática que seria proposta.
A indicação do currículo mínimo
proposto pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro para o 2º
bimestre era trabalharmos o poder na política e suas expressões na sociedade
moderna. Então, por que não desenvolver uma discussão sobre a educação dentro
da perspectiva política do poder dando oportunidade para os alunos responderem
as indagações citadas acima?
Lendo o texto sugerido pelo
professor Rogério Gonçalves de Castro, da disciplina Sociologia da Educação da
pós-graduação “Sociologia da Educação e Cultura” da AVM/Faculdade Integrada, “A
sociedade, o indivíduo e a educação que temos e queremos” de Rodiney Marcelo Braga dos Santos, visualizei que a
minha experiência em sala de aula teve forte relação com a abordagem
provocada.
Inicialmente foi proposto um
manifesto que revelasse as ponderações e reflexões dos alunos do 3º ano do Ensino
Médio a respeito da educação. A bibliografia sugerida para o debate foi o livro
adotado para o ano letivo 2015 (Sociologia – Ensino Médio de Silvia Maria de
Araújo, Maria Aparecida Bridi e Benilde Lenzi Motim) especificamente o capítulo
9 que tinha como objetivo a educação, escola e transformação social. Cada grupo
organizado na turma produziu um manifesto sobre a educação do ponto de vista
interno e externo que pudesse expressar o debate travado pelas questões
sugeridas. Como segundo etapa desenvolveram frases de impacto que pudessem dar
visibilidade as suas idéias através de cartazes expostos em painéis da escola.
Assim puderam estabelecer também uma relação de integração e interação com
outros alunos da escola que em pequenos papéis deixavam suas opiniões em uma
caixinha.
A metodologia pensada tinha como
principal objetivo vivenciar a discussão para depois reportarmos a teoria
proposta no livro. Antes disso, filmes e vídeos de escolas “proibidas”, ou
seja, escolas que estão propondo metodologias de ensino-aprendizagem diferente
foram exibidas com intuito de formalizarmos uma crítica sobre o assunto. Essas
escolas em “questão” têm um forte respaldo na sociedade em que vivemos, mas que
ainda são caracterizadas como uma utopia. Vídeos da Escola da Ponte, do Projeto
Âncora, documentário sobre “Maio de 68”
e filme como “Escritores da Liberdade” foram ótimos exemplos de caminhos que
contrariam a escola que temos que ainda reflete uma metodologia educacional da
idade média em conflito com a metodologia educacional da idade moderna e
industrializada.
Em nosso aporte teórico observarmos
que Emile Durkheim foi o primeiro sociólogo a pensar a educação como um
processo socializador que expressa a sua teoria do fato social, objeto de
estudo da sociologia. Importante para o entendimento inicial da relação
educação x sociedade. Adiante vimos que o filósofo Edgar Morin nos identificou
um problema crucial no processo educacional: o que realmente significa
conhecimento? Compreendemos que a preocupação da escola promover inclusão
social e justiça, passa por uma compreensão mais ampla de conhecimento, um
processo de imprinting cultural “no sentido de injuções da família, da
escola, do ambiente em que vivemos recebidas e processadas por nós.” (226). Neste
ínterim não poderíamos deixar de citar as provocações do sociólogo francês
Pierre Bourdieu que nos chama a atenção que a educação no modelo atual valoriza
os princípios e os padrões culturais dominantes que reforça as desigualdades
sociais e enfatiza a cultura legítima.
Após
o debate teórico, os alunos produziram questões de múltipla escolha que
expressassem suas indagações e ponderações a respeito do capítulo estudado no
qual foram concretizados através de um simulado aplicado nas turmas envolvidas.
A conclusão desse trabalho não deve um ponto final. Percebemos que a educação
que temos e que recebemos ainda esta atrelada a um modelo tecnicista,
industrial e convencional. O potencial transformador da escola ainda não são
visualizados em sua grande maioria, contudo pudemos experienciar um pouco de
ser a própria escola, onde a voz ativa dos estudantes é elemento constructo
importante para uma sociedade mais justa e solidária.
Rudolf Rotchild Costa Cavalcante, professor de
Sociologia da SEEDUC-RJ.
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